Djabal
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« em: Agosto 05, 2008, 17:35:01 » |
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Um grande filme. Uma grande atuação, cercada de muitas-todas outras. Conta a história de um homem obstinado. Obcecado. Que confessa: odiar todos os seus semelhantes; saber deles - de cara - qual é sua intenção; ser um viciado em competição.
Não é muito diferente das demais obras que cuidam da vida e obra dos grandes “tycoons†americanos. Assistimos já muitos deles. Mas existe uma diferença, e essa diferença está no autor do roteiro e diretor Paul T. Anderson.
Ele já havia criado um personagem inesquecÃvel em “Embriagados de Amor†e agora repete a dose.
Uma história dura, de um sucesso buscado a qualquer preço, com um esforço quase sobre humano, que nunca abandona o seu objeto. A primeira frase demora-se muito para se mostrar. São mostrados apenas – sem explicações - os atos formadores da educação sentimental do protagonista. Ao longo de todo filme acompanhamos, com interesse, surpresa, asco, todas as suas opções.
Podemos discordar de algumas delas, mas são indispensáveis ao seu sucesso. De um mineiro miserável e alquebrado a um magnata do petróleo. Sua história se confunde com a história da América. Uma como alegoria da outra. Tive a impressão de Mr. Plainview como uma das nascentes daquele Danúbio que foi a exploração do petróleo. A nascente da espoliação, da cobiça incomensurável, apenas sem o retoque do bom - mocismo. A visão é crua, não há um Tonto, um Sargento Garcia, para acompanhar o Zorro. A iluminação do filme é sombria e magnÃfica. “A treva e a luz sempre haviam coexistido, ignorando-se, e quando finalmente se viram a luz só olhou de relance e se desviou, mas a escuridão enamorada se apoderou do seu reflexo ou lembrança e esse foi o princÃpio do homemâ€.
Existe uma luta entre irmãos, entre a fé e o negócio, ambos visando o dinheiro. São duas faces da mesma moeda da ambição, da vontade de poder.
O que dá um toque de beleza extraordinária ao filme é a habilidade com que o diretor dosa a complexidade do personagem, por um lado com um ódio inaudito e um amor filial incompreendido por todos, inclusive pelo filho e que fica escondido. Aparece de uma forma vacilante, envergonhada ou doida e embriagada.
Uma das cenas marcantes é a da explosão. Naquele local se encontra seu filho “H.W.†(Dillon Freasier). Imediatamente o pai sai em sua busca, encontra-o, aconchega-o no peito e corre com ele para uma distância segura. Constata que o filho está relativamente bem, e o deixa chorando, com os braços estendidos pedindo: fique. Não, ele vai tentar salvar algo do que resta. Volta para o seu negócio. O negócio, sempre o negócio.
Não há dúvida que Daniel é um apaixonado. Tanto de amor quanto de ódio. E essas manifestações são parecidas em seu antagonismo. A abjuração da fé do pastor, seu carrasco e agora vÃtima, é um grande clÃmax e desmascara qualquer poder religioso.
Enfim, é uma das histórias da América revisitada por um homem de grande talento. Ele resiste a comparações com qualquer filme. É único, diferente, cruel e sensÃvel. Explica ao nosso tempo – o nascimento da força do petróleo; se trocarmos o protagonista por um paÃs restará uma explanação didática do que é necessário se fazer para sair vencedor dessa competição.
Esta obra continua o diálogo iniciado com Cidadão Kane, Era uma vez na América, O Poderoso Chefão, com competência, dignidade e emoção.
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