gdec2001
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« em: Outubro 14, 2013, 15:41:40 » |
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SEXTO CAPÃTULO
1. A náusea quase que me sufoca. Não há veneno letal como o horrÃvel odor humano no nariz do que veio do meio do ar. Cegam-me montes de terra. Volto a saber o seu amargoso sabor. Cravam-se-me espinhos pelo corpo. Consigo por-me de pé, mas logo sou atingido pela multidão dos corpos que caem e me derrubam; tento outra vez equilibrar-me sobre este chão repugnante e movediço; ia consegui-lo se não se me afundasse de repente debaixo dos pés. Voltarei a tentar.
2. Os de baixo agarram-me e dilaceram-me; procuram subir por mim; prendem-me as pernas que supõem troncos, os braços que supõem ramos; sacudo-os; liberto-me dos que vivem ainda; Mas mãos definitivamente fechadas sobre mim, arrastam-me para o fundo; arranco-as abrindo, rasgando, dilacerando; mas outras se me fecham, puxam, arrastam e abraçam.
3. Resisto ainda; uma só camada de corpos me separa da superfÃcie; agarro-me, trepo, abro e estendo os braços; flutuo; ergo um joelho, apoio o pé firmemente sobre um corpo que sobrenada. Este não se afunda porque não resiste. Encontrarei outro e firme levantarei os braços sem pressa à postura da cruz e com uma batida vigorosa ficarei novamente planando sobre todos. Consigo apoiar o outro pé; escorrego, agarro-me, tento de novo, sinto-me seguro; poderei agora levantar o corpo; sacudo braços que me enleiam; tento endireitar-me mas vacilo, apoio-me, tremo, ergo-me devagar. Se conseguir ficar de pé, plantado direito sobre os meus dois defuntos e puder esquecer-me desta transitória descida, se conseguir encher o peito de ar, reencontrar a minha natural superioridade e concentrar-me no desejo de subir ... Mas o chão treme, ondula, ergue-se, hesita, detém-se, rola, resvala, afunda-se. Salto de braços e pernas abertas procurando aumentar-me a superfÃcie, e começo de novo, recomeço e torno a recomeçar.
4. Perdido e alucinado, rodopio sobre mim arrastando todos os que agarro ou me agarram num redemoinho que nos arrasta, chupa e suga para o fundo.
SÉTIMO CAPÃTULO
1. Não se esta aqui mal. Aqui já ninguém resiste. Surpreendo-me quente e aconchegado ... quase bem. Certo que estaria melhor se viesse ainda trotando pelo caminho largo livre e liberto de saber para onde, ou mesmo rastejando inconsciente de o estar. Vagamente me lembro de ter andado de pé e certamente me sonhei voando pelo ar... Quereria agora, era apanhar-me jogando ritmicamente o corpo num trote bem organizado, movendo alegre e compassadamente a secreta cauda do meu desejo. Mas viera tão só ...
2. Nunca tivera semelhante... Agora tenho, agora que já não distingo qual é o meu braço e a minha perna e penso no plural; em nós, massa informe, sangrenta, suja, espinhada e enterrada, chamada humanidade. Tão bem escondida estava esta palavra que só viemos acha-la na hora de perde-Ia ...
3. Sob nós e à nossa volta é terra. Terra cai incessantemente por cima de nós. A terra já não nos incomoda; está dentro de nós. Nós e a terra na terra de terra
OITAVO CAPÃTULO
1. ansiosamente
NONO CAPÃTULO
1. esperamos as raÃzes.
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