Encontro-te

[manucodiata]

Não existe vento que te leve enquanto existires dentro de mim. Não existe um estudo de palavras enquanto ditares os poemas ao meu coração. Tudo existe na magia destas mãos quentes de silêncio. Estou na ponta do caminho que te alcança, estou tão perto de ti que quase te toco. Sei-te inquieto porque pressentes o cheiro da ansiedade que me envolve.
 
Encontro-te sentado no bar onde te achas quando a vida se esfrega no teu olhar sem piedade. Não sei se te deixe navegar na noite perdida ou se te envolvo no brilho dos meus olhos e te faço esquecer que o sol não existe à noite.

Agarro o momento e sento-me à tua frente, estás triste. Olhas-me e sorris, sei que me vês como um porto de embarque distante, mas de paragem obrigatória. Sei que te faço sempre feliz e que te rejuvenesço a cada olhar dando-te a vida que desejas.

Dizes algo ao empregado e este dirige-se a mim com uma bebida, olhas-me e passas a tua língua nos teus lábios. Eu, subtilmente, abro o botão da minha camisa deixando parte dos seios à mostra e brinco com a palhinha do licor embrulhando-a na minha língua. Ficas inquieto. Sorris e passas os dedos pelo copo devagar, sinto as tuas mãos no meu corpo, sinto o vermelho a crescer-me na face. Passo os dedos nos meus lábios e deixo-os escorregar até ao ventre. Passas a mão no cabelo, percebo que transpiras. Pegas no copo da tua bebida, bebes um pouco e deixas a língua a brincar pelo vidro fresco. Arrepio-me quando vejo o copo a embaciar, desejo-te…

Chamas o empregado, vais pagar, quando me vais fazer sinal já lá não estou.

Já no quarto, ouço a porta a abrir, afinal o sol vai brilhar esta noite, no nosso olhar.


In "Voos Proibidos"

[Goreti Dias]

Brilha o sol e esta bela escrita. Uma excelente prosa poética.
Beijo

[manucodiata]

Obrigada

Beijo