anamarques
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« em: Abril 24, 2010, 11:11:24 » |
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- Quem era essa mulher misteriosa, Sr. AmÃlcar? - Boa questão, Benito? Uma questão que procurei responder uma grande parte da minha vida... Quem era essa mulher... Mas...Não ouviu um ruÃdo estranho? - Um ruÃdo estranho? Onde? Que ruÃdo estranho? - Escute! - Nada, não oiço nada. - Parou. Quase jurava que ouvi algo lá em baixo. - É o gato. Saltou para cima da mesa e partiu qualquer coisa. - Traga cá esse patife que eu quero ajustar contas com ele. - É para já, esse maldito só serve para atrapalhar a gente. Logo agora que a história estava a aquecer. - Não perde pela demora, Benito.
- Pronto, menos um bule Vista Alegre lindÃssimo, com oferta dos cacos pelo senhor Bigodes. - Dê cá o bichano. Já estás a fazer ronrom...Espertalhão! Não te castigo, está descansado. A nossa amizade vale mais que mil bules. - Amizade? Eu diria que isso é um caso de amor... - Que sabe o Benito de amor? - Pois...na verdade muito pouco. Só o que aprendi nos filmes, na televisão, nos livros, enfim... na ficção... - Então provavelmente sabe tanto quanto eu, quanto todos nós. - Sr. AmÃlcar, o senhor parece preferir a ficção à realidade, não é? - Posto dessa maneira se pudesse escolher entre uma e outra escolheria sem dúvida a ficção. Desde que fosse eu o ficcionista... - Porquê? - Olhe porque a realidade é algo demasiado difÃcil de alcançar. Parece uma enguia a fugir das nossas mãos. Quanto mais a perseguimos mas ela nos escapa. Podemos andar obcecados toda a vida tentando descortinar um facto, uma história, um acontecimento e sem nunca vermos a tal realidade nua e crua... Como se nos faltassem capacidades sensoriais para a captar... - Nesse caso os jornalistas teriam a vida muito dificultada... - Ora agora é que o Benito colocou o dedo na ferida... - Ai perdão, Sr. AmÃlcar, magoei-o? Foi sem querer! - Não é isso, homem! A sua massagem nos pés está óptima. Era uma metáfora! - Ah! Que susto. Não sou muito bom nas figuras de estilo. Já aquilo do eufemismo baralhou-me um pouco... Agora vem a metáfora... - Sabes o que é “dourar a pÃlulaâ€? - Sei. - Isso é o Eufemismo. - Ah, pronto. Pode voltar à Clarinha? - Clarinha! Também já lhe ganhou amizade? - Pois se estamos há séculos de volta dela, não havia eu de lhe ganhar amizade... - Literalmente...Quase! - Como é que ela era? - Era linda! A mulher mais bela que conheci na vida. - Foi uma paixão sua? - Não, Benito. Eu não sou um homem, e nunca fui um homem de paixões. Funciono com a razão. O que não me impede de ter afecto por certas pessoas. Poucas. Escolhidas a dedo. E pelos animais. Com esses não necessito de ser tão selectivo e cauteloso. - Então quem era ela? - “Quem era†é uma pergunta muito mais complicada... Vamos ver se consigo dar-te um vislumbre ténue da coisa... - Acha que sou demasiado básico para entender? - Que é isso, meu amigo? Então? Já vai entender. O problema não está no receptor mas na mensagem! - Ainda bem, Sr. AmÃlcar. - Voltando à história, eu fui ao encontro do meu irmão a Paris. Estava longe de imaginar o que ele tinha para me pedir. Lembro-me da nossa conversa como se fosse hoje. E já lá vão quase cinco décadas...
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