Antonio
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« em: Setembro 16, 2007, 22:05:44 » |
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Nas férias da Páscoa de 1972 (reparem bem que foi antes de 1974 e, portanto, em plena época marcelista, da Guerra Colonial e da censura, entre outras coisas), trinta e três alunos finalistas do curso de Engenharia QuÃmica da FEUP (mais um professor), efectuaram a chamada “viagem de cursoâ€. Sem esquecer o motorista, peça fundamental da engrenagem – o Sr. Vendas. Eu era um dos membros da Comissão Organizadora (só organizar uma coisa destas deu cá um gozo!…) que sempre se mostrou muito competente (pois…a gente também Ãa!). Esta viagem de autocarro através da Europa, na altura tão distante e tão inacessÃvel (o regime normalmente não autorizava os rapazes em idade pré-serviço militar a saÃrem do paÃs) foi, sem dúvida, um momento absolutamente inesquecÃvel da minha vida. Este texto é, fundamentalmente, um intróito que tem como objectivo primário gabar-me, fazer-vos podres de raiva e meter nojo e, como fim subsidiário, dar-vos uma ideia do enquadramento geral em que se passaram algumas historietas relacionadas com a passeata e que futuramente, se bem que ao sabor do imprevisto, aqui irei contar. Foram vinte e quatro dias espantosos, a ver coisas de que ouvÃramos falar, sobre as quais lêramos muito ou pouco, que vÃramos no cinema e na TV, mas sobretudo em fotografias nas revistas e jornais (e até mesmo em livros escolares) e que nos deixaram de boca aberta como se estivéssemos todo esse tempo no dentista (salvo seja!). Vou-vos dizer qual o trajecto seguido: Porto – Madrid – Barcelona – Andorra – Lyon – Genève – Zurich – Innsbruck – Garmisch – Ludwigschafen – Frankfurt – Koln – Amsterdam – Brussels – Paris – Bordeaux – Burgos – Porto. Estas foram as terrinhas onde pernoitamos. Mas paramos noutras: Munchen, por exemplo. (optei por escrever o nome das cidades na lÃngua original – removendo os tremas, que não sei como escrever – para meter ainda mais nojo!). O curso tinha mais de setenta alunos. Dos que não fizeram a viagem muitos se vieram a arrepender após ouvirem toda a panóplia de aventuras e desventuras que os ufanos excursionistas narraram. O custo foi baixÃssimo porque os organizadores foram exÃmios (tosse, muita tosse) em arranjar dinheiro: quer com publicidade no livro de curso, quer com ajudas do ministério da Educação, quer ainda com a valiosa colaboração do DAAD, organismo dum ministério alemão que tinha como função apoiar estas iniciativas com o objectivo de promover aquele paÃs. Também visitamos umas empresas: a BASF, a Bayer, a Lurgi e a Foxboro. Mas que era isto comparado com a neve em Andorra e na Ãustria, com os lagos da Suiça, com as cervejas na Alemanha ou o Crazy Horse de Paris? Peanuts! E que tal? RoÃdinhos de inveja? Pois tem mesmo razão para isso! Ainda hoje, quando se encontram colegas que partilharam a viagem, fazem-lhe sempre uma alusão por mais curta que seja. - Então quando é que vamos repetir a viagem de curso? - Por mim começava já hoje! E mais vos digo: se um dia chegasse a primeiro-ministro haveria de dar mais um feriado aos portugueses; o dia 11 de Março, não por causa do golpe do Vasco Gonçalves e seus amigos, mas porque foi o dia da saÃda. Não posso deixar de realçar que toda a malta se portou impecavelmente, nomeadamente num ponto que costuma ser o mais complicado de cumprir: a comparência sempre à hora marcada para as partidas. Mesmo que os mancebos estivessem a morrer de sono ou as senhoras (que eram dezassete, metade da troupe) não tivessem a maquilhagem nos trinques. Devido à crise académica de Coimbra de 69, alguns dos felizardos não se falavam (uns tinham feito greve aos exames, outros não). Mas no final já eram todos amigos outra vez. E agora fico-me por aqui.
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