DA MORTE DO POETA E DA INUTILIDADE DA POESIA

[CAMPISTA CABRAL]

Brutalmente o poeta é ferido
secamente o assassino o olha

poeta morto entre as páginas do livro
assassino solto nas ruas, na vida

Quem é o poeta?
O sonho, o tempo, o amor...

Quem é o assassino?
O real

E quem sou eu para dizer alguma coisa?

Sou um amontoador de palavras
um homem apenas,
mas um homem que sabe que sonhar não leva a lugar algum
um homem que sabe que há injustiças
e o tempo é apenas um registro humano da passagem e mortalidade das coisas

O poeta morto e eu vivo
As palavras não sabem nada de mim
eu não sou corpo de palavras
não sou feito de palavras
sou feito de pele, carne e ossos
e sei que a vida não é bela
não há canto e nem versos que possam explicar nada
e sondar nada
e sentir nada

O poeta morto entre os seus escritos
porque a palavra mata

é o discurso do ódio
é o discurso das massas
é o discurso do medo

Porque, então, render-me às palavras!
Não presto qualquer homenagem a elas!

Disse já...
Não há nada, absolutamente nada
que as palavras possam explicar sobre a vida

A vida segue sem poesia

segue


MÁRIO FERNANDO

[Goreti Dias]

Pode não ser feito de palavras, mas domina-as bem!
bj

[CAMPISTA CABRAL]

Goreti, fiquei a pensar sobre a palavra e sua função na escrita: instrumento de invenção das coisas e das gentes, mas também tentativa vã de descrever o real. Se sentimos o que escrevemos, verdadeiramente, quando transportado para o papel não é mais nosso, portanto, não é real. Vê como o jogo é bastante complexo. Lembra-se de que falamos a respeito disso em outro texto? Das verdades e das mentiras da poesia e do poeta? Obrigado pelas leituras incansáveis que tens!

Um imenso abraço para ti!!!

[Abgalvão]

O poeta morto entre os seus escritos
porque a palavra mata

é o discurso do ódio
é o discurso das massas
é o discurso do medo

Porque, então, render-me às palavras!
Não presto qualquer homenagem a elas!

Vejo neste poema, (se é que o interpretei bem), um grito de revolta pela impotência do homem, do escritor, em querer mudar o mundo mas não ter nas mãos outro poder para além do da palavra...da palavra boa!

Abraço fraterno

[Karla Bardanza]

Tua poesia rasgou meu coração e me deixou a pensar.Me senti quase inútil...e adorei ser assim!

Beijo

Karla Bardanza

[Goreti Dias]

Sem isso, a poesia seria um relato de sensações ou acontecimentos. Ou seja, apenas prosa partida em linhas...
bj

[Vóny Ferreira]

Excelente poesia para
que reflictamos!
Boas Festas!
Vóny Ferreira

[CAMPISTA CABRAL]

Olá Vóny, Goreti, Karla e Abgalvão:

O poema reflete sim essa impotência do homem, mas também revela uma certa descrença do Eu-lírico em relação ao 'poder' das palavras.

Um imenso abraço para todos e boas festas!!!

Um 2010 ainda mais poético!!