Antonio
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« em: Setembro 21, 2007, 21:27:51 » |
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No dia vinte e dois de Março de 1972, cedo como de costume, deixamos a cidade industrial de Ludwigshafen onde pernoitáramos duas noites e fizéramos uma visita de estudo à BASF, e rumamos a uma das mais importantes cidades da Alemanha (na altura só a ocidental, pois a reunificação dar-se-ia vários anos mais tarde) e da Europa: Frankfurt. Cidade moderna, com grandes arranha-céus e um bulÃcio intenso, quer de viaturas quer de pessoas, não deixa de ser atraente. Sem importantes monumentos antigos, faz a compensação com o arrojo e vanguardismo de algumas soluções arquitectónicas. Chegamos cedo pois, além de a distância ser curta, aquele paÃs já tinha à época uma espectacular rede de auto-estradas. Além disso tÃnhamos de fazer uma outra visita de estudo: desta vez à Lurgi. Por isso, mal terminamos as arrumações no hotel, fomos para a referida empresa onde demos uma rápida voltinha. A firma não era particularmente aliciante para ver, mas tÃnhamos de cumprir os mÃnimos por causa dos subsÃdios. Lá almoçamos e por volta das quatro da tarde já estávamos a abandonar o hotel. TÃnhamos de aproveitar o resto do dia pois, na manhã seguinte, seguirÃamos para Colónia (Koln). E fomos saindo. Os rapazes que tinham namorada tiveram que gramar umas idas aos grandes armazéns e a shoppings (já os havia por lá, nesses tempos). O meu amigo Jacinto (sempre ele) tinha trazido, entretanto, indicação para irmos ver um espectáculo numa casa chamada Bar Europa. Não sabÃamos o que era, exactamente, mas as referências indicavam que se tratava de coisa muito adequada a homens, Ficava numa transversal da Kaiserstrasse (rua do Imperador). Esta rua larga e comprida nascia exactamente na Estação do Caminho-de-ferro (a que nós nos habituáramos a tratar pelo nome em alemão: “bahnhofâ€) e estendia-se à sua frente. Não sei se já repararam que nas cidades portuárias, as “zonas†mais importantes de sexy-shops, cinemas porno, meretrÃcios e quejandos, se situam perto dos cais. Nas cidades de interior, como Frankfurt, essas “zonas†localizam-se preferencialmente junto das estações dos caminhos-de-ferro. Não é sempre assim, mas é-o a maior parte das vezes. E lá fomos os dois, em busca da rua da perdição. Perguntamos a um taxista que nos explicou e percebemos tudo facilmente. Também era perto e bom caminho. Por isso mesmo fomos a pé. Ainda tÃnhamos um bom bocado da tarde e a noite para apreciarmos bem as últimas “modas†alemãs. Os primeiros dois terços da rua eram normalÃssimos. Só na terceira parte (caminhando para a estação) é que começavam a aparecer as lojas, cinemas, bares e similares. Fomos até ao final (ou inÃcio, se quiserem) da rua para fazer o primeiro reconhecimento do terreno. Depois viemos para trás e começamos a fazer uma prospecção sistematizada das transversais. Numa delas havia um bar que, por razão que não recordo, nos chamou a atenção. Parámos à sua porta e espreitamos lá para dentro para ver melhor de que tipo era. E um chulote qualquer começou a perguntar-nos, nas lÃnguas respectivas, a nacionalidade: jugoslavos? turcos? espanhóis? brasileiros? e mais duas ou três. Fomos respondendo que não. Finalmente: - Portugueses? Respondemos afirmativamente. E não querem saber que o homem nos mandou para a rua com maus modos? Parece que alguns compatriotas nossos tinham feito estragos naquele meretrÃcio. Ainda se podia ver o sol. Continuamos a pesquisa. A certa altura, noutra das transversais, deparamos com uma porta aberta. Por cima, um letreiro luminoso (embora apagado, no momento) tinha escrito: “Paradiseâ€. Espreitamos pela porta e só vÃamos umas escadas que desciam para um piso inferior. O revestimento era todo a mosaico de cor azul clara. O aspecto geral era o de uma instalação nova. Como já estávamos escaldados, resolvemos dar uma olhadela por fora. Mais adiante havia uma porta e escadas semelhantes. Com uma diferença: A primeira dizia Eingang e a segunda Ausgang (entrada e saÃda, respectivamente). Resolvemos entrar. Descemos as escadas e deparamo-nos com uma cave com as paredes todas revestidas a mosaico azul celeste e com algumas portas forradas a cabedal. A área era enorme; talvez uns quarenta metros por vinte, talvez um pouco menos. E, nesse enorme átrio, dezenas de “meninas†em trajos sumarÃssimos faziam trottoir. Eram quasi todas jovens e algumas lindas de morrer. Entre as prostitutas, andavam homens a apreciar e apreçar as pequenas. Quando chegavam a acordo, iam para uns quartinhos através das tais portas com couro. Apreciada esta novidade, subimos e saÃmos. Logo adiante, na esquina da rua principal com uma das que lhe eram perpendiculares, mas com entrada pela secundária, apareceu o letreiro: BAR EUROPA. Era o que procurávamos. Perguntamos a um velho porteiro se estava aberto. Respondeu que não. - E quando é possÃvel entrar? - A partir das nove horas. - E qual é o preço? - Um marco – disse o homem. Olhamos um para o outro. Oito escudos? Só? - E não é preciso pagar mais nada? – interrogamos o sujeito. - Sim, claro, o que beberem. E mostrou-nos um cardápio com os preços que eram bastante baratos. Entretanto perguntamos se podÃamos dar uma espreitadela para o interior. - Sim! As meninas estão a ensaiar – disse o simpático homem. E espreitamos. Havia um palco ao fundo e, vestidas com uma espécie de fato de treino todo branco e muito justo, cinco ou seis mulheres ensaiavam colocando-se em posições um tanto heterodoxas. - Já chega! – disse o guarda. E terminou esta pequena conversa toda ela em inglês. Este idioma já se perfilava como o mais usado em todo o tipo de negócio em qualquer parte do mundo. Feito este aparte, podemos dizer que o pouco que vimos aguçou-nos o apetite. E continuamos o nosso passeio olhando para tudo aquilo com um ar de algum espanto. A certa altura resolvemos ir ver um filme. Era sessão contÃnua. Exibiam vários, uns a seguir aos outros, sem intervalo. O espectador entrava, ia vendo, e quando estivesse farto, saÃa. Não demoramos muito tempo. O pedaço de filme que nos apareceu no écran era demasiado mau. Nem porno nem erótico. Uma merda. Entretanto aproximava-se a hora de comer para depois ir ao show do Bar Europa. Fizemo-lo tragando um hamburger, com mais cebola que carne e pão juntos, numa lojeca que tinha o balcão à face da rua. Demos mais uma voltinha e ainda não eram nove horas já estávamos a comprar a entrada para o espectáculo do Europa. Uma das empregadas vestindo, como as outras, um curtÃssimo vestido preto e um avental branco rendado, indicou-nos uma mesa. Pedimos uma cerveja cada um. Vieram dois canecões que dariam para a noite inteira se o conteúdo não ficasse quente e portanto intragável. E começou o espectáculo! Eram seis raparigas que executavam vários números porno (não entravam todas no mesmo quadro: umas vezes eram duas, outras três, outras quatro...). Meu Deus! Nunca tinha visto daquilo! Elas exibiam-se total e despudoradamente para uma assistência quasi totalmente masculina. E quando uma delas resolve pegar numa longa boquilha e tirar umas fumaças vaginais fazendo rodelas de fumo, os espectadores aplaudiram delirantemente e em pé tão notável feito. Também aparecia, de vez em quando, um artista com aspecto de australopiteco que deveria usar da sua virilidade para ajudar o desempenho das actrizes mas o homem devia andar a trabalhar muito pois a fraca actuação do seu falo deixou o público fulo. E estivemos naquilo até à uma da manhã. Mas o gozo maior foi quando contamos a aventura na Kaiserstrasse aos nossos colegas. Alguns decidiram que da próxima iriam comigo e com o Jacinto. E dois deles foram: em Amsterdam.
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