Vitor da rocha
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« em: Julho 30, 2010, 13:29:31 » |
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Lenço de Papel 5
Ela levantou as sobrancelhas e arredondou os olhos, querendo deixar transparecer algum espanto e incredulidade. Ele, mais moderado, só acenou com a cabeça e tossiu. Os dois ficaram a olhar a viatura, que agora lhes parecia verde. Os estofos já não eram tão soberbos, os cavalos perderam a raça e tornaram-se numa meia-dúzia de carcaças magras e derreadas. Bem, vamos pensar, arriscou ela a dizer, cheia de coragem, como quem diz vou ali tomar um café e já volto. Mas o mais provável é não voltar, sabe-o bem Gustavo. Apertaram as mãos a Gustavo, que lhes entregou um cartão, Gelmicar – Stand de Automóveis – Novos e Usados – de Gustavo de Sousa – Rua das tantas, número de porta, cidade, telefone, telefax, telemóvel e e-mail – Um carro à medida do seu sonho. Era preciso atender, mostrar, responder, informar, enganar umas poucas de vezes até concretizar uma única venda. Todavia, por mês, ainda caÃam algumas no saco, com que fazia um rendimento jeitoso, depois de pagar luz, água, licenças, impostos, ordenado do empregado. Que, por acaso, até acabava agora mesmo de irromper pela porta, cruzando-se com os falsos clientes, depois de ter ido buscar um carro a mando do patrão, cuja compra fora um óptimo negócio. Então não assinaram nada?, perguntou, apontando para as costas do jovem casal. Gustavo abanou a cabeça, que não. Belo rabo, caramba! Gustavo acenou que sim, para mostrar que reparara bem antes dele. Quis então saber alguns pormenores do negócio concluÃdo pelo empregado. Documentos. Quilómetros. Estado. A quem pertencera. Era mesmo assim, ou história da carochinha? Os dois saÃram para a rua, onde o empregado estacionara a compra. Rondou a viatura do mesmo jeito como haviam feito os dois falsos clientes há pouco. Espreitou para dentro e viu os quilómetros. Assobiou. A este também vou ter de encurtar os caminhos percorridos. Tenho de ligar ao Acúrcio.
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