Estética, arte e moral

[carlossoares]

Não me parece que haja moral "fora" da consciência axiológica do homem, do mesmo modo que não concebo que haja estética se não houver experiência estética. A relação entre percepção estética e experiência estética é algo "circular" se pensarmos que o juízo estético, por ténue que seja, é constitutivo de uma e de outra, tal como a experiência moral envolve um juízo moral. E não será por isso que a "aprendizagem", a "educação", a visão do mundo e da vida, parecem estar sempre implicados no processo de reconhecimento e avaliação do estético?
No domínio dos valores, como será o da estética (nas obras de arte) e da moral, o formalismo terá a ver principalmente com o reconhecimento de que "umas coisas" são mais "valorizadas" e "apreciadas" do que "outras". Grande parte das obras de arte não passam de formalismo porque aproveitam e laboram excessivamente aquilo que é suposto provocar reacções estéticas, como se houvesse "coisas" estéticas por definição. Em determinado momento, o juízo estético também é um juízo (mais ou menos consciente) de mérito artístico acerca do autor.
Diria que, se de tudo, até do que pensamos, temos ou podemos ter experiência estética, então, toda a experiência é, ou pode ser, estética (do feio, do bonito, belo, horrível, agradável, desagradável, assustador, apaziguante, animador...). Nesta ordem de ideias, a(s) arte(s), também nos proporciona(m) (e não podia(m) deixar de proporcionar) experiências estéticas. A diferença é que, proporcionar experiências estéticas, não só é objectivo essencial das artes como, ainda, estas o fazem intencional e deliberadamente.

[Guacira]

Oi, Carlos.
Gosto desses desafios filosóficos (risos).
Acredito que em toda experiência estética subjaz uma lógica e uma ética, mas não, necessariamente, ser produto da consciência estética, pois o fato de, como se refere, "grande parte das obras de arte não passarem de formalismo" estético, e ser o "juízo estético também um juízo (mais ou menos consciente)", nem toda experiância estética envolveria percepção estética (que não, necessariamente, encaminharia ao juízo estético, por sua vez).
Compreendo que a consciência estética pode ser uma percepção inacabada, ou sem finalização, ficando em aberto,  e não se envolvendo com a experiência estética, ou seja, ser uma percepção espontânea.
As obras de arte na percepção citada acima (como formalismo), provocariam, apenas, reações estéticas, podendo não afetar a consciência e a percepção estética.
Obrigada pela oportunidade do exercício...
Beijo,
Guacira

[Goreti Dias]

Grande parte das obras de arte por excelência nasceram de forma inconsciente; o artista, ele mesmo, não terá consciência absoluta da grandiosidade do objeto artístico criado. O tempo lhe trará o reconhecimento e o inscreverá no mural da fama.

[carlossoares]

Guacira
e
Goreti,

os vossos excelentes comentários fizeram-me pensar na hipótese, estapafúrdia?, de ser a obra que faz o artista e não o artista que faz a obra, ou pelo menos, que o artista faz obra tanto quanto esta faz aquele.
Obrigado.
Bjos

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Carlos, só agora li seu texto. Li também os comentários. Todos me foram bastante importantes, pois gosto do assunto estética. Gostaria de ratificar o que você disse na sua resposta aos comentários. Concordo que artista e obra se fazem antes mesmo da obra estar acabada. Aliás, a obra não acaba nunca e nem o artista. Enquanto existir memória, ambos existirão.

Grande abraço.

Oswaldo

[carlossoares]

Oswaldo,

à medida que vamos moldando as coisas também vamos sendo moldados por elas. Trabalhar é, se alguma maneira, mudarmo-nos pela nossa própria acção e pela acção das coisas.
Abraço

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

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