Antonio
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« em: Novembro 15, 2007, 15:23:17 » |
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João, Mário e António eram três tipos que tinham o que poderei chamar de uma tara, perversão ou desvio sexual. João, com trinta e poucos anos, era um velho viciado em espreitar outras pessoas em atitudes ou ambientes Ãntimos. Um voyeur! Desde há muitos anos que passava as horas livres à cata de casalinhos, ou nas dunas da praia, ou nos matagais, ou cocando para o interior das casas e dos prédios ou, principalmente, deitando o olho para dentro de carros onde estivessem parelhas em atitudes amorosas ou libidinosas. E a vida sexual dele resumia-se a isto e à s masturbações que completavam o visionamento. Mário e António eram dois rapazolas no final da adolescência que também se pelavam por umas espreitadelas para os sÃtios proibidos. Andavam quasi sempre juntos e travaram conhecimento com o João numa sessão nocturna em que estavam os três ao redor de uma única viatura da qual, em dado momento, saiu um tipo gigantesco que os fez fugir a toda a velocidade. Pararam a uns duzentos metros de distância, ofegantes. O João, o mais especializado, disse: - Meus meninos! O que fizeram hoje nunca mais deve ser repetido. Quando tiverem de dar de frosques, deve ir cada um para o seu lado. Valeu? Os outros concordaram e, enquanto se refaziam do esforço da corrida, foram conversando. Desde essa noite que estes três pestaninhas, nome pelo qual são bastante conhecidos estes mirones compulsivos, passaram a andar muitas vezes juntos, sendo o João o lÃder natural, não só por ter a maior pancada na mona como por ser um profundo conhecedor das técnicas da espreitadela, minimizando os riscos, e ainda por saber de muitos outros locais onde poderiam ir exercer esta interessante prática sexual. As sessões mais excitantes eram as que ocorriam à noite, em locais mal iluminados, onde estacionavam automóveis com duas pessoas. Normalmente eram um homem e uma mulher mas, algumas poucas vezes, calhava um par do mesmo sexo. E aà a excitação atingia o pico pois filmes desses eram mais raros e ainda mais estimulantes. Era vê-los a correr muito agachados, tão velozes que mais pareciam grandes lebres, a procurarem o carro em que a visibilidade para o interior fosse melhor e os ocupantes estivessem mais distraÃdos para nem darem pela presença dos maganões. Há alguns anos, um amigo do expert João tinha tido o azar de se distrair e o sujeito que estava dentro da viatura, já totalmente saturado de tanta pestanada, enfiou dois balázios na cachola do desgraçado que ficou logo ali esticado até chegar o delegado de Saúde. Fora uma noite trágica, mas memorável. Durante muitos meses a actividade baixou. Ou melhor, passou a ser exercida noutros locais e com muito maior discrição.
Numa quente noite de estio, no alto de uma arriba que tombava abrupta para um estreito areal junto ao mar e que era um dos locais favoritos para os mais ou menos apaixonados estacionarem, estava o espaço cheio de carros. Os três membros do gang dos pestaninhas lá apareceram dispostos a, mais uma vez, arrostarem com todos os perigos, quais Gamas ou Cabrais, e satisfazerem a sua doentia curiosidade. Falavam pouco e baixinho, e entendiam-se sobretudo por gestos. A visibilidade era boa, ao contrário do que acontecia no inverno em que o rápido e quasi total embaciamento dos vidros muitas vezes só permitia que estivesse disponÃvel a parte áudio. O João Pestana, como também era conhecido o sabidola, estava junto de um carro muito compenetrado na acção que decorria no seu interior e Ãa afagando-se como tanto gostava de fazer. O António estava filado noutro par e o Mário num terceiro. Eis que este fez sinal ao jovem parceiro para se aproximar. - São dois gajos! Vamos ver o que fazem os paneleiros. Para já só estão a conversar, mas não deve demorar muito que entrem em acção – disse, quasi num sussurro. E acrescentou: - Aguenta aà um bocadito que eu vou chamar o João. Ele delira com estes casalinhos de rabetas. - Ok! Vai, que eu aguento aqui os cavalos. Pouco depois estavam os três reunidos junto do Volkswagen Golf à espera que os namorados iniciassem uma forma mais arrebatada de demonstrarem o seu amor e o seu desejo. De repente abriram-se simultaneamente as quatro postas do carro, o que fez com que os dois mais novos caÃssem ao chão, e de lá de dentro saÃram quatro mangas que imediatamente agarraram um dos mirones. Foi o Mário, o azarado. Entretanto, os outros dois piraram-se a grande velocidade esquecendo-se por completo da amizade que tinham pelo parceiro. E, na luta desigual de quatro contra um, ainda por cima sem poder gritar pois imediatamente lhe tinham colocado uma fita adesiva na boca, começaram a despi-lo e a lançar a roupa para o fundo do abismo até que o pobre coitado ficou nu. Mas, não satisfeitos com isto, os quatro amarraram o desgraçado de mãos e pés, meteram-no na viatura (onde ele se vingou fazendo uma valente mijadela) e foram largá-lo, depois de desamarrado, no meio de uma praça que nessa noite estava cheia de gente a tentar refrescar-se com uma ligeira brisa que estava a começar a soprar das bandas do oceano. Os sorrisos, as gargalhadas e alguns gritos histéricos acompanharam a fuga do Mário para casa correndo com as mãos a taparem os genitais. - Em bem digo que o mundo está maluco! - Mas que pouca-vergonha! - Mas o gajo está mesmo nu! - Tapa aà os olhos à s crianças! - Até tem um bom corpinho, o moço! Foram algumas das exclamações que se puderam ouvir. Entretanto o fugitivo chegou a casa, que era a dos seus pais, saltou o muro do quintal e entrou sorrateiramente logo se dirigindo para o seu quarto onde vestiu uns boxeurs e se deitou na cama. Quando a mãe Amália, por volta da meia-noite e antes de ir para os seus aposentos, foi dar uma espreitadela ao quarto do seu Marinho, ficou admirada por ele já estar a dormir. E a partir dessa noite, quebrado o código de honra, desfez-se o agrupamento dos três pestaninhas ficando o Mário a trabalhar por conta própria.
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