Nina Araujo
|
|
« em: Março 25, 2009, 22:04:07 » |
|
Toinho deu-se ao desfrute Ajeitou o penteado no cuspe E foi fazer a confissão, A dona era lá da esquina, E atendia por Malvina, Cem de peito, coxa e bunda Um vestido cava funda E os olhos de furacão Tão longa que nem a prece Tinha o cabelo ilustrado Pelas modas da revista Andava toda emproada E fingia-se de delicada Se um nobre botasse vista.
Toinho, magro e coitado, Sonhava ter um bocado Daquele corpo profano, Mas viveu troncho no engano, Era um tonto, um pé rapado Sem eira , ripa, nem cobre, Um metro e meio de pobre, Com olhos de dura ilusão, Coragem presa no saco Rodou volta,quebrou taco, E foi cascar na manguaça, Ai, meu Deus será que passa Esse amor de estricnina Ofertada em voz de cão?
Malvina era casca grossa Colecionou dez maridos Fora os nove já escondidos Sonhando em encher as burras, Mas era tonta e vaidosa Gastava tudo que vinha Nos vãos amores que tinha Toda prosa, vaidosa Dois homens bons lhe vieram E como vieram assim foram Partiram muito enganados Devendo aos quatro costados Sem ouro pra pôr no prego, (Teve um que morreu cego...)
Mas tem homem besta aÃ... Mal ela andasse na rua, Mil pescoços se contorciam Mirando as curvas da perua, Toinho pra si dizia: (Ela ainda será sua!) A sapeca era dengosa, E o portuga da Rosa Não disfarçava na corte, De um café já vinham três, O pão tinha ovo estrelado, Fila juntando freguês, Seu José que não fiava, Esperava o fim do mês.
Mas é que o nó do destino, Esgoelou a viúva, Deu leseira e perna turva, Malvina quedou deitada, O médico circunspecto, Todo calmo,foi direto: -São só dois meses de vida!! Só, moribunda e falida Ficou a dona encolhida, Sem ter qualquer dinheirinho Quis a ajuda de Toinho, Que virou um seu criado, Fiel e sem resmungar, E ela então decretou, (Ele é meu bom namorado...)
Pat Borato e Nina Araújo
*com a ajuda luxuosa da revisão de Brida!
|