Homilia

[António Estaca]

Uma rua plena de tempestades
Promenade dos mortos calados
Chamou meu nome conspurcado
Para uma viela de má fama

Esperava a prostituta lúdica
E o proxeneta por vocação
Quiserem meu dinheiro
Não o tinha
Quiseram minha alma
Já a tinha vendido

Perante a mágoa do seu prejuízo
Oferendaram-me seus corpos gastos
Em troca do crédito
De mais um dia de vida

Reneguei-os
Em lágrimas feitas de asfalto sujo
E réstias de orgasmos precoces
Pediram-me que os abençoasse

Invoquei-os
Em poses de carne plástica
Em preces de línguas padecentes
Disseram, perdoai

Iluminei a minha auréola
Deus , merda de néon
Invoquei a raiva divina,
 Fulminei-os

Os seus gritos de prazer ecoaram pela avenida
Êxtases feitos de ouro e medo
Pelos prédios
Os defuntos despertaram
Nas águas furtadas
Caíram roupas de corpos queimados
O suor da fornicação
Orgia cosmopolita
Cadáveres renascidos
Abri os braços
Sinal da cruz, sorriso do demo
E gritei
Aleluia

[Goreti Dias]

"Os defuntos despertaram
Nas águas furtadas"

Mas que gritaria terão feito!!!!
Um poema girando pelo inusitado, verdade camuflada por sinais da cruz na cara do demo...
Abraço