JLMike
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« em: Janeiro 15, 2008, 01:09:17 » |
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Amor,
Esta é a primeira carta que te escrevo desde tudo o que s epassou entre nós. Desde o primeiro olhar, o primeiro beijo, o eterno sangue, a derradeira morte. Desde os passeios pelos parques nas manhãs de Primavera, desde as caminhadas quentes feitas nas praias de Verão, desde as estradas que cruzámos a correr enquanto caÃam gotas de OPutono nas nossas cabeças, desde os dias a fio que passavamos juntos, agarrados um ao outro, no sofá lá de casa, pois era Inverno e estava frio. Sinto saudades tuas. Sinto, não tenho. Saudades nã se têm, sentem-se. E estas eu sinto-as bem. Quando nos afastámos, criou-se um poço dentro de mim, um poço que eu pensava não ter fim. Mas esse poço foi-se enchendo, a pouco e pouco, de saudades. Agora, transborda para fora de tão cheio que está. E é dos meus olhos que as saudades caem, salgadas e húmidas. Amor, que saudades estas... Lembras-te do dia em que demos o nosso primeiro beijo? Eu lembro-me. Estavamos os dois deitados no parque, à sombra de uma árvore. Os pássaros saltitavam de galho em galho e cantavam para nós. Na nossa frente tinhamos um lago onde viamos cisnes brancos. Recordo-me de te querer mostrar uns cisnes bebés que ali estavam. Tu dizias que não os conseguias ver. E era bem verdade. Aquilo era apenas um pretexto para me acercar de ti... ah, que inocente e envergonhado que eu era... Aproximei-me por trás e passei o meu braço por cima do teu ombro de forma a apontar para o lago. A minha face ficou ao lado da tua, conseguia sentir-te, o teu calor... Acho que foi nesse momento que tudo aconteceu e selámos as nossas vidas. Tu viraste a cara e olhaste-me nos olhos. Disseste: não estão ali cisnes nenhuns, pois não? E depois sorriste, um sorriso muito pequeno que mal se notava. Mas sorriste de uma forma tão poderosa que me encheste de forças e então beijei-te. Não nos largámos mais essa tarde, entre beijos e beijos. Era como que se tivessemos um amor já condenado e quiséssemos aproveitar ao maximo o tempo que restava antes de cada um seguir para o corredor da morte. Tenho saudades disso, daquele amor, daquela paixão, daquela força que não movia mundos mas movia-nos a nós, juntos, em frente...
Com saudades eternas,
Daquele que sempre te amou
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Amor,
Sento-me na secretária para te escrever outra carta pois as saudades são tantas que me afogam se não escrevo. Merda para este sentimento, esta angústia, este saber que tudo era eterno (sim, porque nós, enquanto juntos, fomos eternos) e que, agora, tudo não passa de nada, um nada que foi, que será e que é, de certa forma, desconcertantemente eterno. Merda para as saudades, raiva que tenho delas. Sim, tenho raiva. Isso é algo que tenho. As saudades sentem-se, a raiva tem-se. E eu tenho raiva e não tenho medo de a usar. Grito, esperneio, berro o teu nome na noite para que todos o oiçam. Grito com raiva, esperneio com raiva, berro com raiva! Raiva! Raiva! Raiva! Sou feito de raiva! Raiva e saudades, uma combinação explosiva! Um poço cheio de saudades e um barril de raiva com um rastilho. Basta uma chama, uma pequena e efémera chama, e tudo explode, e não sei o que acontecerá depois... Tenho medo... não sei de quê mas tenho medo... Não é de te perder, isso já aconteceu... mas tenho medo... E agora não te tenho comigo, tu que te deitavas sempre a meu lado na cama fria e me dizias "vai ficar tudo bem", e que depois me fazias um carinho na cara, me beijavas a testa, encostavas a tua cabeça no meu peito e adormecias. Nesses momentos a tua respiração era como um calmante para mim. Apaziguava-me... deixava-me tranquilo... Saudades... saudades... raiva... raiva... Merda para os sentimentos. Quero escrever-te mais mas não consigo, sinto uma chama a aproximar-se do rastilho e isso não é bom sinal.
Com saudades e raiva eternas,
Daquele que ainda te ama
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