ouves-me lucy? (mais um pedaço)

[antónio paiva]

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     cá por dentro consome-me o amargo de não saber verdadeiramente por que, nos tornámos impossíveis a caminho de inexistentes. tão irreverentes que nós fomos, eram sempre poucos os lugares onde podíamos estar a sós, e agora estamos sós no universo inteiro. há um sabor a saber a nada, um substantivo cativeiro, eu sou o periférico de mim, na tua ausência só cabes tu. revemo-nos dias a fio e parecemo-nos tão feios que magoa, abrimos chagas que obstinadamente recusamos fechar. escuto as paredes a chorar devagarinho, húmidas da tempestade que me desaba no peito.
     e, às vezes fazemos amor – será amor que fazemos?, mas fazemos e, eu dentro de ti e, tu dentro de mim e, choramos por nós. misturamos prazer e dor, mas fazemos e, misturamos, sem nunca atingir o auge em nenhum deles, mas fazemos. como se nos magoássemos e gostássemos de nos magoar fazendo. e do cansaço desses momentos anacrónicos sobram-nos os olhos molhados. porque o mundo nos bate à porta com as suas porcarias como se fosse um marido traído. e nós abrimos-lhe todas as portas das nossas vidas permitindo que ele nos afaste com a nossa cumplicidade escancarada.
     quotidiana neurose sonâmbula que só os meninos dispersam, brincam connosco por saberem que também já fomos meninos, e nós recordamo-nos que sim, que já fomos meninos, por isso brincamos com eles também. tão meninos que nós fomos e crescemos para quê?, a resposta vem dos risinhos contentes dos nossos filhos, – crescemos para que houvessem novos meninos. somos felizes em crianças porque apenas queremos aquilo que a vida espontaneamente nos dá. tal como os gatos que buscam apenas o calor do sol quando o há, e quando o não há, enroscam-se, dormitam, e são felizes à mesma.

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[Vanda Paz]

António

Sabes que sou sincera... e sinceramente já não me agrada ler estes pequenos textos, deixa-me um nó de ansiedade no estomago...

Apetecia-me sim era de devorar tudo de uma ponta a outra

Como tenho acompanhado desde o primeiro, consegues ir transmitindo ao leitor humor, ansiedade, revolta, tristeza também... é isto que se quer num escritor, não é?

Parabéns ( e não precisas pagar )

Beijos