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As peças de porcelana, miniaturas cerâmicas aguadas em trapos, num palanque redondamente pequeno, remoinhavam. Inferiormente se encontrava um “gira-gíria”, palavra que a avó me sussurrava, de sete-virtudes, destituída de aguardente, de álcool, se bem que precisava de desinfectar umas chagas.
Nesse ápice a corda empeçava, o palco baloiçava, as bijutarias franzinas cabriolavam, acravadas no piso de madeira. Marionetas exorbitantes que não carecem de maneio ou correntes nesses festivais de mesa-de-cabeceira. Bailam porque lhe desandaram a corda, cantam porque possuem bateria, embora não tenham memória… Provo-o facilmente ao enunciar os derrubamentos que lhes dei e eles nunca abandonaram aquele palco, ou rasgaram os pés acorrentados àquele chão, ou evitaram na noite seguinte dar o espectáculo após o polé do cordão rodear. Se a fundamentação for desacertada, são agarrados imoderadamente ao dinheiro ou à tal entrega, mas eu não lhes pago, precisam eles de pilhas para se mexer e não sabem aonde as arranjar? É o dinheiro, não o têm e admitem que abdicando dele neste planeta nada se faz, nada se cria, nada se transforma.
Para já quero ver a sua rítmica, o abanar mais que decorado, exercitado desde que o benfeitor traçou o primeiro acessório, quero só ver a agitação, nos fanicos dos farrapos, no castanho, na luzinha que pestaneja, nos suspiros de cada volta que o palco dá, e ele roda, roda, roda, voltando ao preciso ponto em que estava quando dei o empurrão para que abalroassem, desvairados como rockeiros modernos dos tempos antigos, e não passassem das cicatrizes desse passado. Não quero relembrar que o fazem por obrigação, por medo do gigante ouvinte que os pode empurrar, e em seguida se magoarem no chão frio do fundo que nunca conseguiram ver, tirando nos momentos em que se estatelam de cabeça nele. Nesses momentos a melodia transforma-se num choramingar nevoento, e eu digo à minha avó para trazer cola pois quero remediar defeitos fatalmente irreversíveis...
Adoram-me, por mais que fiquem sozinhos, que se segmentem, que se esmigalhem, que Bagdad sucumba, atentados que haja, ou que o meu avô não pague as contas de casa, ou que a Igreja feche e seja mofada. Para eles sou O Todo-poderoso, perpetuamente.
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