Antonio
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« em: Maio 20, 2008, 20:39:06 » |
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Recentemente publiquei um texto com o tÃtulo “A avó Joana†no qual contava umas historietas relacionadas com a avó paterna da minha mãe. Hoje resolvi fazer uma incursão pelos antepassados da linha materna da minha falecida progenitora. O assunto tende a ser maçador para quem o lê, mas prometo tentar reduzir essa caracterÃstica ao mÃnimo. Os avós maternos da mãe Julieta, Úrsula e António Gomes, viviam em Valença do Minho, terra bonita do Alto Minho e principal fronteira com a Galiza. Tiveram sete filhos: Maria, a mais velha, casou com um capitão do Exército e foi viver para Viana do Castelo. Ainda a conheci, já muito velhinha. Teve oito filhos. Outros tempos! António, o “Cinco minutosâ€. Sobre este escreverei mais abaixo. João, que trabalhou sempre na agricultura, era o mais buçal de todos. Não lavava os dentes e morreu com cerca de oitenta anos mas com os dentes naturais todos (sujos mas sãos). Fernando, o padre, também viveu a maior parte da vida em Valença (Segadães) e nunca me pareceu muito mÃstico. Costumava dizer para as sobrinhas: “primeiro a obrigação e depois a devoção; se não puderem ir à missa porque tem tarefas a desempenhar, rezem em casaâ€. Conheci-o razoavelmente e sempre me pareceu um tipo inteligente e culto. Susana, que faleceu cedo e nunca conheci. Tem um filho com mais de noventa anos, o Fernando, que casou em Leiria e ainda lá vive. É, juntamente com a minha tia e madrinha Maria José, um dos dois sobreviventes da geração seguinte. Delfina, a minha avó, faleceu com pouco mais de cinquenta anos e nunca a conheci. Radicou-se em Vila Praia de Âncora. Rosa, ficou solteira e viveu sempre com o padre. Arminda, também celibatária, que chorava por tudo e por nada, foi também a companheira de quasi toda a vida do padre e da irmã Rosa. Quando o mano Fernando foi operado para ablação da próstata, lacrimejava dizendo: “E agora o nosso padre ficou oco, coitadinho!â€. Com excepção da Susana e da Delfina, os outros cinco faleceram com mais de oitenta, ou mesmo noventa anos. O que mais viveu foi o António que se finou um ou dois anos antes de completar o centenário. Era o mais débil enquanto jovem. Estava sempre adoentado e os pais não sabiam que futuro lhe dar, até que resolveram que ficaria a trabalhar na loja que tinham e que, entre outras coisas, cambiava dinheiro, nomeadamente escudos e pesetas. Assim se iniciou o frágil rapazito (que eu conheci como um velhote bem corpulento) nas artes do negócio. Quando era muito solicitado pela clientela, respondia sistematicamente: - Cinco minutos! - Daqui a cinco minutos eu atendo! - São só cinco minutos! Não demorou muito tempo que ficasse conhecido em toda a vila como o "Cinco minutosâ€. Quando criou uma casa de câmbios não deixou de a baptizar com o nome de “Casa de Câmbios Cinco Minutosâ€. Os anos foram passando e o António foi enriquecendo, chegando a fazer uma fortuna considerável. Era o ricaço da famÃlia! Casou com VirgÃnia e teve um filho, também António, que trabalhou sempre com o pai. Este casou com Luciana e tiveram uma única filha a quem baptizaram com o nome da avó: VirgÃnia. Mas, na famÃlia toda a gente a conhecia como Pochinha. Tem mais cinco ou seis anos do que eu. É bem conhecida a história de, num dos primeiros aniversários da neta, o velho António lhe ter oferecido um pote ou penico parcialmente revestido a ouro. Mas era um forreta, o homem! Quando vinha ao Porto, de comboio, trazia o almoço de casa, bem embrulhado para não arrefecer e comia no comboio durante a viagem ou depois de chegar. Sabe-se que tinha uma amante no Porto, que vivia só com duas filhas e que ele pagou os estudos à s raparigas que lograram tirar cursos superiores. Naquele tempo era obra! Também é conhecido que, já depois dos oitenta anos, confidenciou à sobrinha Felisbela, irmã mais velha da minha mãe, que ainda tinha uma amante, sempre no Porto para ser mais discreto. A minha tia perguntou-lhe: - Ó Tone! Mas tu com essa idade já não consegues fazer nada! - É só para a ver nua! – respondeu o velho devasso. A sessão demoraria só cinco minutos?
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