MiguelMancellos
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« em: Janeiro 11, 2012, 17:02:00 » |
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O tempo, marcam-no a erosão do corpo e o crescimento da alma. Corpo e alma... O casamento mágico que torna possÃvel o "ser". Do corpo vos digo, é ponto de referência e abrigo de entidade transcendente que se afirma ao mundo; é extensão do "eu" irrepetÃvel; microscópica partÃcula; centelha de vida regurgitada pelo difuso energético de que se compõe essa força viva que se sente mais do que se vê - governante do mundo e de todas as coisas, de nome... Universo (?), Absoluto(?), Ente Primordial (?), Deus (?)... será que importa o nome? Já da alma vos conto, é esse "ser" que sabemos que é e que vence sobre o tempo. Enorme vasilha que se enche e enche sem envelhecer. Não a vemos, nem tão pouco sabemos que existe, se existe, para além do corpo que habita e preenche de silêncios e cúmplices particularidades em fusão perene donde resulta a identidade. O tempo parece correr, mas não corre. Não poderia correr. Ele é um espaço contÃnuo e linear; longo caminho, talvez eterno, por onde desfila a existência. O caminhante que o percorre - eu, tu, nós - vestido de um mundo próprio por onde desfilam peripécias de um espectáculo designado vida, anda, anda e anda. Anda sempre, até se cansarem as suas pernas, até o seu coração parar; até se esgotar pelo uso e pelo gasto, o corpo por onde corre a energia que o move. Chamamos-lhe tempo, a esse espaço de caminhada. Mas não é. O tempo é a estrada que percorremos até nos cansarmos. A caminhada é o pavio que se consome dessa chama que eclodiu e se transformou em nós. São, o imenso mar, o universo, as galáxias, o dia e a noite, esse intenso brilho que nos enche de sonhos, que movem o caminhante. Caminha, ou navega - prefiro navega - exultante no encalço de um porto que não existe. Venera o sol que o aquece e o sal que o tempera e navega a caminho do engodo da luz que não vê, mas esperançadamente teima saber existir.
Na sua soberba, queixa-se da lentidão das noites, quando, neste caminho que percorre, pouco falta afinal que se dê conta, que estas sobre si passam já, com a inusitada velocidade de um abrir e fechar de olhos. Cobre então de injúrias o mundo, lamenta com raiva a sorte, clama bem alto enternecedoras súplicas, sem saber que, para ele, a justiça já se fez. Despeço-me amigo, pedindo que não te esqueças desta verdade: O essencial da vela que arde não é a cera derretida que permanece como testemunho de si, mas a luz que irradia da chama que a consome.
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