Melancolia de um escritor

[sonhadoremfulltime]

Volto-me para a mesa. Puxo uma folha de papel para assentar o copo. Resvalo os olhos pelas marcas de tinta. O vidro fazia de lupa.

Poema da Despedida

“Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.”

Mia Couto

Cerrei os olhos. Lágrimas melancólicas percorreram-me os sulcos do rosto. Embora nenhuma palavra minha alcance o mundo, ainda assim… escrevo.
Eu sempre procurara sinais, referências. Há muitos anos atrás, muitos de nós escutávamos episodicamente alguns pais de famílias de bem, explicar as graças de Platão e as facécias de Descartes. A isso intitulávamos exercícios práticos de Filosofia. Por vezes torturávamos ratos e outra bicharada do género. Chamávamos-lhe exercícios práticos de Biologia.
Outras vezes um aborto de óculos na ponta o nariz, arrotava impropérios contra Hitler, apelidando-o de demónio Alemão. A isso designávamos estudar.
Mas, era no café Pigalle que estudávamos humanidades e história.
Adolescentes enfermos de adolescência e de ilusão que a cada momento contemplavam o mundo e o punham em causa. Isso fazia-nos sectários e tínhamos os nossos profetas.
A tudo isto, um denominador comum: a fúria de viver, de consumir a vida.
Essa era a nossa divisa.

[Goreti Dias]

Dá fúria ler-te! É um prazer!
Abraço

[sonhadoremfulltime]

Obrigado Goreti.
Quando arranjas uma editora?

Um beijo

[Goreti Dias]

Pois... Quando me sair o euromilhões publico de graça todos os utilizadores! rs...rs...

[sonhadoremfulltime]

Pois... estou à espera do mesmo 

Um bjo

[damasco]

O Pigalle de Coimbra?

[sonhadoremfulltime]

Este Pigalle, é na Amadora.
 
Obrigado

[damasco]

É curioso como a ambiência é semelhante. Deve ser dos Pigalles.

[sonhadoremfulltime]

Deve ser sim!
Este é certamennte um dos cafés mais antigos da Amadora.
De vez enquanto faltava ao Pigalle para ir ás aulas 
Abraço

[marcopintoc]

Bom texto. Este texto trouxe-me de volta a uma Amadora plena de cabeleiras longas e guitarras cheias de distorção.
Abraço
Marco

[sonhadoremfulltime]

Olá Marco!
Belo retrato da Amadora nos anos 70.
Um abraço