Figas de Saint Pierre de
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« em: Janeiro 25, 2019, 19:16:24 » |
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ESCRITA À LAREIRA Engraçado estar à lareira, neste dia de frio. -Andam a meter gás na rua- A vida corre ao lado, Temperatura quase negativa! Queixar-me ? Não. Estou no quentinho, Com um livro na mão, Noutra um copo de vinho, Leio desgraças dos Távoras, A loucura da Rainha Maria, -Ruim rio tornou-se um bom- Mas eu sentado, no quentinho, Em frente ao fogo da lareira, Não do da Inquisição, -Tenho que pagar o gás- Que queimava quem antes de comer pão rezava! O ler faz bem, viaja-se sem sair da casa, Passeia-se por entre paisagens de sentimentos. -Quando terei gás?- Desde sempre gostei de ler, Mas ainda sem muito saber! Que proveito tenho em ler e saber o que sei. Ai, a eterna questão entre o ler e o saber Que proveito se tira do saber ler? Dar importância ao Ser ou ao Ter? -Tenho que ler a fatura do gás- Importante é sempre a importância; Das plumas dos chefes, Das medalhas dos generais, Das togas dos judiciais. Paro, estou a arrefecer, Ponho mais uma acha para aquecer. -Nunca mais chega o gás- E lá volto ao Marquês, Que correu com os jesuÃtas E mui mal fez à igreja, Coitadinha, tão humilde na pobreza Da ostentação da sua riqueza, Mas, lá está, os livros ajudam, -Tenho que ler os e-mails do Benfica. Mas o gás ainda não chegou!- Lembram que tudo volta ao mesmo E que após qualquer translação, Mandam os descendentes da exploração Que reavivam folclores dos ricos a explorarem pobres, Em danças de futebóis, procissões de religiões, Proibição de manifestações e censuras aos poetas, -Tenho que pagar o gás- Resta só e sempre a esperança Que a senhora Fátima tudo resolve! Outros santos já faliram! Eu, à lareira, Ponho mais uma acha, O mundo roda, Um novo em cada translação, Nela nova geração, Só com uns a perceber da poda. Leio livros, O Mundo está feito, A vida é bela, Embora com promessas de vida eterna, Nela queremos permanecer E à cautela manda-se dizer missas, Provando que a morte está viva†Pronto, termino esta escrita, Junto ao fogo da lareira, Não do da inquisição, Obrigado Marquês, Terei cuidado em não me queimar -Batem-me à porta, é para meter o gás- Já tenho gás! …xxx…. Autor: Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque
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