Uma Guerra Moderna

[anamarques]

Uma mulher dirigiu-se à esquadra da GNR para apresentar queixa por maus-tratos por parte do ex-marido. Vendo que apresentava marcas de violência doméstica os agentes chamaram uma ambulância para a transportar ao hospital.
O homem perseguiu a ambulância forçando o motorista a regressar ao posto procurando ajuda. A criança assistiu ao pai abrir a porta do veículo e matar a mãe com dois tiros.
Os agentes, tirando-lhe a espingarda, levaram o homem para dentro da esquadra.
Este disparou um revólver contra dois operacionais, ferindo um e matando outro

Foram muitos os homens que não te puderam valer. Uma vida inteira de medo engolido em seco. O silêncio gritava sempre mais alto até ao dia em que a coragem o derrotou. Se o paraíso existir estarás num local onde os anjos têm género. Serão mulheres.

Se não assistíssemos a filmes e séries de televisão ficaríamos na ignorância pensando que é normal um homem matar uma mulher à frente de agentes da autoridade sem que estas o algemassem e o revistassem.
Na vida real matar ou não matar é igual. Vai-se calmamente pelo braço preencher papéis no posto da guarda. Como se chama? Como se chamava a vitima? Que parentesco os unia? Prometeu amá-la e respeita-la até ao fim da vida? Mas não jurou abster-se de lhe tirar a vida? Pois, nesse ponto tem uma certa razão...

Estamos no ocidente, ouve-se dizer. Ficamos contentes por sermos mulheres e não usarmos burka. Mas esse direito não está à partida garantido. Existe uma guerra em curso para que o uso da burka seja abolido de facto. Uma guerra clandestina.
Pelo facto de existirmos, e de mostrarmos braços, pernas, olhos, bocas pintadas com batom, existem baixas. Este ano foram vinte e oito. E o ano ainda não terminou.

Senhores Ministros, seria pedir muito, transformarem este país num Estado de Direito?
Seria tão complicado assim legislar, dar meios, recursos, instrução às polícias, manter o sistema de justiça a funcionar correctamente para que os criminosos possam ser punidos pelos assassinos que cometem?
Mesmo sendo complicado, podem ao menos tentar tornar este sítio à beira-mar plantado num PAÍS?

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

AnaMarques, teu texto diz de algo muito grave e sério. Até quando veremos pessoas praticando atos com os desse homem, um verdadeiro monstro? Penso que somente Deus é capaz de nos explicar satisfatoriamente as atitudes de alguém tão violento. Parece que os responsáveis pela ordem implantam e lucram com o caos.
Cabe a nós denunciar qualquer tipo de violência e repudiá-la sempre, seja via literatura ou outra arte ou ciência, seja via protestos e anúncios nos meios de comunicação.

Grande abraço

[anamarques]

Amigo Oswaldo, não poderia estar mais de acordo contigo. A denúnica permanente destes casos tem de ser uma arma para contrariar estes crimes monstruosos. Mas não chega. Há violências que não se combatem senão com medidas drásticas. Quando um homem mata uma mulher não pode ser levado para o posto com falinhas mansas e sem algemas! dando-se ao luxo de matar um GNR e ferindo outro e sabe-se lá quantos mais mataria senaõ tem ficado sem balas!

De qualquer forma para além das medidas que têm de ser tomadas pelas autoridades competentes, acho que deve haver uma condenação pública destes individuos. Hoje em dia toda a gente quer evitar problemas que não lhe dizem directamente respeito, virando sempre a cara para não assistir ao que lhes poderá trazer problemas. Mas o que hoje pode ser um problema dos outros amanhã pode ser o problema de uma nossa filha, neta, irmã e por aí fora. Basta de silêncios acobardados.
Por vezes temos de ir à luta para alcançar a paz. (Neste ponto estou de acordo com o Nobel da Paz, Barack Obama)

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

E digo mais Ana. Na realidade, o problema do outro quando se trata de abuso, privação, desrespeito etc... pode ser caracterizado como violência contra a humanidade inteira. Todos fazem parte da humanidade. Logo, uma criança faminta em Bangladesh, um refugiado de Ruanda, um analfabeto do Mianmar ou uma vítima de abuso sexual em Nova York são pessoas que poderiam estar ao meu lado, ser da minha família ou grupo de amigos ou eu mesmo poderia ser uma delas. Portanto o problema delas é nosso também. Ainda bem que não somos os únicos a pensar assim. Mas falta mais gente junto a nós num reforço do time da resistência à brutalidade e à indiferença.
Deus nos abençoe e nos ajude assim como a todos os que sofrem direta ou indiretamente violência.

Um abraço...

[anamarques]

Oswaldo, conseguiste chegar ao ponto fulcral da questão. Concordo contigo inteiramente. Cada um de nós é parte de um todo. E sem empatia pelo outro não somos sequer humanos. Existe uma música do Sérgio Godinho que diz isto mesmo de que falamos: "pode alguém ser livre quando alguém não é?"
Um forte abraço.

[Goreti Dias]

Está difícil Ana, muito difícil... não sei onde vamos parar.
Beijo

[Vanda Paz]

Não é a primeira vez que denuncio à APAV casos de violência doméstica e o que mais me dói é que eles não podem agir. Para agir tem de existir uma série de coisas, mesmo com testemunhas é tudo muito complicado. E o pior é que estas mulheres estão tão apavoradas que acabam por perdoar sempre com medo de represálias. Enfim, é o mundo que temos, mesmo à nossa porta.

Bom texto Ana

Beijinho

[anamarques]

Se ao menos houvesse mais mulheres como tu, Vanda...
Esta guerra está para durar. São mudanças de mentalidade, evoluções que demoram séculos para ocorrerem. Um dia lá chegaremos, talvez.
Obrigada, Goreti e Vanda pela leitura e comentários.

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Um grande abraço para ti também e um ano de 2010 melhor. Com mais justiça, empatia e compaixão.

Deus esteja com cada um de nós durante o ano vindouro e para sempre.