UMA MADRUGADA

[Sandra Fonseca]

Renovo na memória a madrugada
Que estavas sobre mim qual grande astro
Riscado como um sonho em alabastro
E a pele com aroma de alvorada.

Se há um  toque, um  estertor de linho
Meus dedos tontos tateando o nada
Se  num momento a boca encantada
De pura espera é toda desalinho.

Eu alço um vôo em asas de falena
Um delirante cheiro de açucena
Atravessando a fria madrugada

Que vai pousar suave aos teus pés
Entre o manto da noite e através
Da prata de uma lua desnudada

[carlossoares]

Sandra Fonseca,

fico a pensar na doçura das imagens com que representa emoções, talvez profundas, talvez apenas imaginadas e também não sei se amamos antes de termos alguma "imaginação" do amor, ou se temos alguma "imaginação" do amor antes de amarmos, ou se só podemos amar se formos capazes de o imaginar e de o desejar. Mas acredito que um forte desejo aspira a uma revelação de eternidade intensamente aprazível.
Os dois tercetos são duas árias musicais tocadas pelos instrumentos da sua imaginação afectuosa.
Gostei muito.
Abraço.

[Vera Silva]

Um belo soneto de uma grande poeta, onde eu, como leitora, sou sistematicamente levada para outro universo, a cada novo poema teu.
Grande qualidade Sandra! E sempre a crescer

[Goreti Dias]

Sonhos de alabastro e aroma de alvorada... Assim são as tuas palavras. Belíssimo soneto!

[JB]

Sandra

voas tão alto neste teu poema
que concerteza podes ver,
o quanto me deixo por aqui estar olhando as tuas palavras.
beijos
JB