Antonio
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« em: Maio 14, 2008, 12:04:34 » |
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Foi em 1977. Ainda só havia dois canais de televisão em Portugal – os da Rádio Televisão Portuguesa – e nada de emissões a cores, quando começou a ser difundida a primeira telenovela. Brasileira, uma produção da Globo, foi um estrondoso sucesso. “Gabrielaâ€, baseada no romance “Gabriela, cravo e canela†de Jorge Amado, era uma magnÃfica obra televisiva com personagens riquÃssimas interpretadas por grandes actores. Seguia todos os episódios atentamente e só razões inultrapassáveis me retiravam da frente do pequeno écran durante a sua transmissão. Também nesse ano foi produzido um concurso semanal, inovador, que tinha elevadÃssimos nÃveis de audiência: refiro-me a “A visita da Cornéliaâ€. Mas as telenovelas tinham vindo para ficar, como se pode constatar ligando hoje um televisor, nomeadamente no chamado horário nobre. Ainda vi a segunda, bastante mais fraca, que se chamava “O casarãoâ€. Entretanto comecei a achar que estava a perder demasiado tempo a ver produtos de duvidosa qualidade e virei-me para outra actividade qualquer. Já não me lembro qual. De vez em quando acompanhava uma ou outra, lembro-me da estupenda “O bem amado†em 1984 e de “O Roque Santeiro†em 1987. Foi no final dos anos 80 ou no exórdio dos 90 que decidi afastar-me novamente da rotina entorpecedora das telenovelas. E inscrevi-me num curso nocturno de inglês. Eu era o mais velho da turma, mas a maioria dos meus colegas já andava pelos vinte e muitos ou trinta e tal anos. Também era o que melhor me entendia com aquele idioma, pelo que, descontraÃdamente, era o grande animador das aulas. A professora, uma jovem inglesa franzina e aloirada, de nome Maria – isso mesmo, Maria – era uma boa professora e as aulas eram momentos de grande descontracção e aprendizagem. No ano seguinte a turma manteve-se unida mas tÃnhamos um outro professor. O Richard era magnÃfico a ensinar e o clima de boa disposição manteve-se durante mais um ano lectivo. Num jantar que oferecemos ao “teacher†e a outra professora, que era a sua companheira, no final do ano, numa marisqueira em Matosinhos, o Richard fez, de improviso, um discurso em português praticamente sem erros e com um sotaque estupendo. Era um predestinado para a aprendizagem de lÃnguas. Por cada paÃs onde passava para leccionar, ao fim de um ano já tinha aprendido novo idioma. No terceiro ano a equipa permaneceu junta, com a excepção da entrada da Susan, uma jovem britânica muito loira e com uns lindos olhos azuis, para o lugar do Richard. Foi a professora mais fraca, apesar da sua simpatia. Mas as aulas continuavam a ser um momento de prazer, convÃvio e aprendizagem. Certa vez, tive uma ideia maluca e um tanto ousada. Escrevi numa folha de papel A4 as palavras:
Prostitute Male homosexual Female homosexual To make love To make oral love To make anal love Penis Vagina Breasts To defecate
E, antes de a entregar à Susan disse-lhe (em inglês, claro): - Ó professora! Sabes que nós aqui aprendemos muita coisa. Mas quando estou a ver um filme, muitas vezes os actores usam uma linguagem muito vernácula e não percebo nada. O mesmo acontece com os outros alunos. E entregando-lhe a folha previamente escrita, acrescentei: - Por isso, gostava que colocasse à frente de cada palavra que aà está alguns significados mais "fortes". A professora não se desmanchou e disse: - Eu não sou muito conhecedora de palavras do tipo das que queres saber, mas vou pedir a ajuda de um colega. E na aula seguinte entregou a cada aluno uma folha preenchida de forma ainda mais completa do que eu esperaria. Vou transcrevê-la. Espero que aprendam umas coisas de inglês com as “Useful Coloquial Expressions†(eufemismo para Swear words) que nos foram apresentadas. Faço notar que, ao escrever esta parte do texto, estou a copiar a velha folha que guardei religiosamente ao longo destes anos todos.
Prostitute – Hooker, Pro, Whore, Bitch, Slag (leviana, em português) Male homosexual – Gay, Poof, Woofter, Fairy, Faggot, Queer (old expression) Female homosexual – Lesbian, Dyke, Les To make love – To have sex, To have it off, To bonk, To screw (strong), To fuck (strong), To shag (very strong) To make oral love – To suck someone off, To give a blow job To make anal love – Give it up the arse, To bugger (apanhar…) Penis – Cock (strong), Willie (mild), Dick (strong), Knob, Prick Vagina – Fanny, Cunt (very strong) Breasts – Tits (medium), Boobs, Knockers, Jugs (mild), Melons (mild) To defecate – To shit (strong), To pooh (for children), To go for a crap, To shite (strong), To drop your back (specific from Liverpool), To dump
To call a person – Mild – Bugger, Sod, Swine, Get, Cow, Twit Strong – Bitch, Bastard, Twat, Pain the ass, Cunt, Wanker, Fuck, Tosspot (very strong)
To tell someone what to do – Mild – Bugger off, Get lost, Strong – Fuck off, Piss off, Go fuck yourself, Fucking hell
Exclamations – Mild – Bollocks, Balls, Crap, Bloody hell, Damn, Fuck Strong – Shit
Infelizmente, nesse ano todos chumbaram (já não me lembro porquê; talvez porque tenha havido alguma prova final), excepto eu e outro tipo. E assim se desfez aquela turma fantástica. No ano seguinte fomos ambos parar a uma turma de adolescentes de quinze e dezasseis anos. Faziam uma barulheira insuportável e falavam inglês bem demais. Ao fim de duas ou três semanas desisti. Gosto de fazer as coisas enquanto me dão gozo. Se deixam de me agradar, mais vale acabar (se tal for possÃvel, como era o caso). E assim, sem glória, acabou (quero dizer, não acabou) um curso de inglês. Mas ainda hoje, quando encontro alguém dessa turma na rua ou em qualquer outro lugar, não podemos deixar de estar pelo menos cinco minutos a recordar aquelas aulas espectaculares.
(escrito em 23 de Dezembro de 2005)
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