Vóny Ferreira
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« em: Agosto 25, 2008, 11:01:05 » |
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O silêncio por vezes é um acorde desafinado de violino, atravessa-nos a alma em golpes certeiros, como se fosse tocado por anjos enlouquecidos no terraço de um arranha céus! Magoa-nos e enternece-nos numa simultaneidade extraordinariamente estúpida. Faz-nos sentir um prazer inexplicavelmente sádico porque assim com nos transporta para os limbos onde os sonhos se penduram com molas de alecrim ressequÃdo, também nos escacara as janelas do desespero, numa corrente de ar que nos arrepia, transformando-nos num velho mendigo, carregando à s costas o seu mundo de farrapos e despojos, que os outros abandonaram no lixo. Ninguém ama mais o silêncio do que eu… aposto! Aposto o meu tudo pelo nada que tanto baralha as minhas as ideias! Aposto… aposto… como se soubesse que vou ganhar essa aposta, enquanto jogo contigo, assim… catastroficamente eufórica, sentada no degrau da imaginação, onde apesar de tudo ainda te encontro. Reparo agora… que tens o regaço cheio de flores ressequÃdas. E eu? O que tenho eu?
- O tempo foge-me, transforma-me… e eu tenho medo de te perder. Caramba!! Medo… medo… como sentia quando era menina, ah triste menina ruiva e despida de sonhos infantis! Sinto o mesmo medo, sim, quando chovia torrencialmente contra as frágeis janelas da casa onde morávamos, mãe, e quando o vento parecia transformar-se EM PAPÃO DEMONÃACO! Que estranho… agora que penso nisso, não vejo nada, só vejo o tempo a fugir-me por entre os dedos, como se de repente fosse sonâmbula, e descobrisse as verdades que rejeito, numa premonição de poeta embriagado de lucidez! Ouço ainda os acordes desse violino, tocado no terraço de um arranha céus. Não sei se através do vento ou se através de uma borboleta que teima em rondar o roseiral que plantei há muito na minha imaginação fértil mas cansada… Quem absorve o perfume dessas flores? A confusão que invade o meu espÃrito inquieto é mais do que muita… Talvez apenas os pássaros se embriagam dessa melodia inebriante, que ouço ao longe, como se sumisse no cântico dos grilos. Repetitivo, dramaticamente melancólico, como se se abraçasse aos gemidos do vento com a mesma nostalgia com que eu te abraço o olhar, agora repleto de neblinas espessas. Inebrio-me dessa tristeza opaca que paira nele, e fico confusa, sabes? Tenho ânsias de me transformar teimosamente numa gaivota suicida, cansada de voar. Apetecia-me atirar-me contra uma rocha perdida no mar, com a velocidade de um torpedo telecomandado. Porque não? Sempre disse que adorava acabar no mar, como se fosse uma alga marinha, em incessantes bailados, a morrer na espuma de uma onda mais atrevida. É o silêncio e o meu pensamento que a maior parte das vezes nos aniquila, sabes? Com a mesma transparência de cristal, com que te abraço e amo, numa pressa de faminto condenado à morte. Numa avidez de menino negro perdido nos caminhos estéreis de Ãfrica, onde a sede se transforma em moscardos zumbidores, a beber as lágrimas desses olhos acusadores, a atravessar-me a consciência de cimento molhado. O que fiz eu…hoje, de útil para a humanidade? E TU? Vóny Ferreira
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