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Autor Tópico: 1º evento ou penduricalho  (Lida 3212 vezes)
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gdec2001
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« em: Julho 09, 2009, 22:42:02 »

Penduricalhos


1º evento

Tenho a minha cabeça tão cheia destes acontecimentos nocturnos que vivo no terror de que rebente se não os despejar aqui neste papel que por sinal nem é muito apropriado .
Devia ter começado este relato já há muito tempo porque na verdade me esqueci já de alguns pormenores dos  acontecimentos que me acontecem e aconteceram , de maneira que é perfeitamente natural que alguns deles, por que truncados , vos pareçam inverosímeis mas a verdade é que quanto menos consigo discernir os pormenores mais os acontecimentos me perturbam parecendo até que não estão dentro da minha cabeça mas fazem parte dela assim como penduricalhos que apenas lhe entravam os movimentos .
De maneira que eu pareço eu e mais tantos, quantos os penduricalhos que arrasto na minha mente alguns do quais são tão diferentes dela mesma que ela mesma os estranha e tenta repeli-los  o que não parece possível pois não só tais penduricalhos estão agarrados à minha mente como parecem ter raízes nela o que não me permite por vezes distinguir o que é a mente, o que são os penduricalhos e o que é cada um deles e o que é a minha cabeça.
Como isto me dói !
No entanto será necessário que eu comece por algum lado.
Vou então começar pelo lado mais extremo de um desses penduricalhos para ver se não vem algum pedaço da minha mente agarrado a esta minha descrição .
***
Lembro-me perfeitamente de que esta complicação toda começou precisamente há vinte anos mas não me lembro se este episódio se deu há vinte anos ou vinte dias ou até, sei lá, há vinte horas.
Foi o caso que logo que me deitei ouvi uma voz a chamar-me que parecia vinda de debaixo da cama . Mas como sei muito bem que não tenho qualquer sentido de orientação levantei-me e dirigi-me para a porta da rua a qual no entanto, não me lembro de ter abrido ; não me lembro de ser aberta por mim -é assim que eu engano o meu computador que não sabe português e por isso marca a palavra abrido com um sublinhado vermelho o que é bem feito para a palavra abrido que é horrorosa - .
A verdade verdadeira porém é que me encontrei face a face com o meu velho professor da instrução primária, na pequena sala de estar dele. Ajeitava na mão a sua pequena mas grossa régua e queria saber se eu sabia o que era um advérbio. Ainda bem que o Sr. me pergunta isso porque ando há mais de meio século com ela entalada; desde que me perguntou o mesmo quando o visitei depois de entrar no liceu. Mas então diz-me lá o que é , insistiu ele batendo com a régua na própria palma da mão. E eu pensei : Vou-lhe dizer que é um adjectivo de um verbo para ver como é que ele se amanha com esta.
 Apareceu porém por ali a linda mulher dele que trazia um prato de biscoitos na mão os quais me souberam tão bem que me esqueci  do professor e dos seus advérbios os quais, bem lá no fundo do meu penduricalho, continuei a pensar que eram os adjectivos com que os verbos gostavam de brincar . Mas isso eu gostaria era de dizer ao ouvido da linda mulher do professor e parece que ele percebeu porque se retirou elegantemente deixando-me só com ela o que muito me surpreendeu porque sabia que ele não era grande amante de tais delicadezas.
Procurei então aproximar-me dela, a linda mulher do professor, mas a verdade é que quanto mais andava para ela mais me distanciava . Olhei então para mim mesmo e descobri que isso era devido ao facto de que a cada passo que dava me encolhia de maneira que já estava mais pequenino do que quando entrei para a escola a primeira vez . Que chatice. Desta maneira se não me precato ainda entro na barriga da minha mãe -não pensei eu, porque não tinha, então, idade para pensar tal coisa -
A linda mulher do professor parecia-me agora era uma linda senhora, muito distante, à qual só me apetecia beijar os pés. Também era verdade que com a minha altura não lhe poderia chegar a outro lado do corpo que merecesse ser beijado, pensei eu muito admirado como é que, sendo tão pequenino, conseguia ter pensamentos tão marotos.
Comecei por isso a tentar afastar-me dela e a crescer à medida que me afastava . Tive por isso o desprazer de voltar a ver o professor que dizia qualquer coisa que eu não podia compreender . Também eu lhe respondi qualquer coisa que na verdade me saia da boca do fim para o princípio e da mesma maneira se processavam os meus pensamentos os quais só pude supor que não eram amigáveis . Em breve cheguei à porta da rua que se fechou à minha frente quando eu já estava dentro de casa . Muito me admirava como é que não tropeçava num dos muitos móveis que tenho na sala e no corredor embora o meu andar fosse ao para trás.
Em breve me encontrei deitadinho na minha cama e muito contente por  estar a dormir tão profundamente que era um regalo.

Geraldes de Carvalho
« Última modificação: Agosto 09, 2009, 00:11:24 por gdec2001 » Registado

Geraldes de Carvalho
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« Responder #1 em: Julho 09, 2009, 23:51:00 »

...

caro Geraldes,

"Tenho a minha cabeça tão cheia destes acontecimentos nocturnos que vivo no terror de que rebente se não os despejar aqui neste papel que por sinal nem é muito apropriado ."

não tenho o dom hermenêutico do estimado poeta Domingos da Mota, mas tenho o dom de ler como quem sente e como quem escreve (acho). e, há dias li-o a lamentar-se que provávelvente não o liam porque não o comentavam.

ora se, eu já lhe disse e reitero que o meu caro poeta não precisa de provar nada, do mesmo modo lhe afirmo com toda a convicção, que não precisa que lhe confirmem nada, relativamente à sua qualidade literária.

e, olhe que, se de cada vez que eu o leio a si e a outros/as, eu tecesse um comentário, eu seria o papagaio mais comentador cá do sítio e, a todos enjoaria por certo (e olhe que eu leio mais do que escrevo e repito leituras vezes sem conta, só não gosto de me ler).

com todos os advérbios e verbos, sujeitos e predicados, e ainda os afins, fico-lhe grato por partilhar.

sem mais,
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« Responder #2 em: Julho 10, 2009, 01:47:33 »

Sabe, meu caro. Eu penso que não sendo lido é como se não escrevesse porque, é claro, aquilo que eu penso é comigo mesmo mas aquilo que escrevo é principalmente com os outros . Isto é evidentemente uma vulgaridade porque toda a gente sabe que escrever é uma forma de comunicar e só comunicando é que temos a certeza de viver e existir, objectivamente, digamos assim .
Quando somos lidos mas não comentados, podemos ter sido lido com atenção ou sem atenção nenhuma o que equivale mesmo a não ser lido . E a minha angústia -hipotética- é só essa . Imagine a tragédia de um indivíduo que se esfalfa a tentar comunicar com o seu semelhante e não consegue . É bem pior do que estar morto, é como se não tivesse nascido . É claro que isto não acontece comigo. Basta estar agora a conversar consigo para se ver que não acontece . Mas não acontece em termos absolutos mas pode acontecer em termos relativos .
É claro que eu digo isto mas procedo como os outros, leio muito e comento pouco . Tenho de deixar de ser egocentrista é claro . Prometo-lhe que vou tentar . Entretanto, meu amigo,
muito agradecido lhe fico
Geraldes de Carvalho




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Vanda Paz
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« Responder #3 em: Julho 10, 2009, 11:41:43 »

Geraldo

Para mim é um prazer enorme lê-lo. A falta de tempo e conhecimentos literários não me deixam porém comentar devidamente. De qualquer modo, comentar um texto é como provar um vinho ( e disso percebo eu) , pode-se dizer mil e uma coisas bonitas, mas o essencial é saber se o cliente (neste caso o leitor) gostou ou não.

Deste texto gostei e muito

Abraço
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Vanda Paz
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« Responder #4 em: Julho 10, 2009, 13:56:14 »

Uma boa prosa. Gostei!
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« Responder #5 em: Julho 10, 2009, 22:01:35 »

Conceição, Vanda e Goreti :

Agradeço muito as vossas palavras. Elas me provam que sou ouvido ou seja que sou e tanto me basta .

vosso
Geraldes de Carvalho

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E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
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Boas leituras!
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Boa noite!
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Brevemente, novidades por aqui!
Setembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
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Obrigado, Administração, por avisar!
Setembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

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Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
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Boa noite a todos.
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Bom domingo para todos.
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Boa semana para todos.
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Boa tarde a todos.
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Bom domingo para todos.
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