gdec2001
|
|
« em: Novembro 19, 2013, 22:42:32 » |
|
Desenvolvera-se muito e parecia feliz.
Outra ideia: Nunca devemos desesperar as soluções estão quase sempre por detrás da porta
Um dia, o Mário, cogitou que uma estranha ideia lhe estava, de vez em quando, a ocupar o pensamento. Tentou desfazer-se dela embora não soubesse, muito bem o que significava. Mas sempre voltava e cada vez mais clara. Até que, “ ontem†se esclareceu completamente na sua cabeça: Para que a Adélia, ou seja eles, pudessem ter um filho, a Adélia precisava de ter relações com outro homem. Que coisa absurda, pensou. Mas essa coisa absurda começou, literalmente, a dominá-lo. Resistiu-lhe durante alguns dias até que hoje -um hoje que não é, evidentemente, o dia seguinte ao de ontem - se decidiu a falar com ela num momento de maior intimidade. Ela reagiu violentamente, tal como ele esperava. Que pensasse porém, nisso, era tudo quanto ele lhe pedia, insistiu . Ela respondeu que não queria pensar, mas pensou. E lentamente, foi-se habituando à ideia. Podia ela ter relações com um homem para o qual mal olhasse . Considerou, porém, que não podia ser assim, pois queria ter um filho bonito e saudável e inteligente e para isso precisava de ter o pai adequado. Começou então a reparar, com outros olhos, nos homens que a rodeavam, principalmente na fábrica. Ah! Esqueci-me de dizer que ela recuperara o seu lugar na fábrica depois de alguns meses de esforços. Valeu-lhe que o dono a governava à maneira antiga e como conhecia a Adélia, e tinha uma boa ideia dela, deu-lhe preferência, logo que teve uma vaga. Voltemos, pois, ao nosso conto: Dizia eu que ela começou a reparar melhor nos homens que a rodeavam. Havia um empregado na fábrica, o Joaquim, que costumava meter-se com ela. Não perdia oportunidade de elogiar a maneira como ela andava, como ela se vestia, como ela era bonita. Fazia-o com delicadeza de maneira que ela nunca pudera zangar-se com ele. Muito espantado ficou ele quando ela, numa certa manhã, lhe respondeu: Também tu és bonito. Ficou espantado e embatucado de modo que não foi capaz de retorquir mas, alguns dias depois, veio até junto dela e começou a conversar perguntando como é que estava o marido. Que estava bem, respondeu ela, e que continuava a gostar muito dele, se era isso que ele queria saber. E ele, mais uma vez, não foi capaz de responder. Ela concluiu, bastante apressadamente, que o Joaquim não era inteligente e desinteressou-se dele passando a responder-lhe com monossÃlabos, até que ele se desinteressou também. Havia outro homem bonito na fábrica mas esse era o encarregado da oficina de salga e a Adélia respeitava-o muito e considerava-o muito inteligente pois tinha chegado a uma posição de chefia, sendo ainda muito novo. Chamava-se António Chouto, António Gomes Chouto, para ser mais preciso. Era um homem muito calado e ela também, mal tinha coragem de lhe falar. Mas vivia obcecada com a ideia de fazer dele o pai do seu filho. Um dia encheu-se de genica e convidou-o para almoçar em companhia dela e ele aceitou imediatamente. Durante o almoço falaram e ele abriu-se, contando que era um pouco mais velho do que parecia; trinta e três anos, já fizera. Que já fora casado mas a mulher morrera quando teve o seu segundo filho, há dois anos apenas, na altura em que ela não trabalhava na fábrica. Que sim, era bastante saudável, ao menos assim julgava, pois não se lembrava de ter tido alguma doença grave. Que tivera o sarampo e as outras doenças vulgares nas crianças mas agora, até mesmo as constipações, eram muito raras. Mas ele não sabia porque é que ela se interessava por isso. Por nada, disse e pensou: É mesmo este que eu quero para ser pai do meu filho. Mas como fazer? Durante alguns dias ela não teve coragem de convidá-lo novamente e ele também a não convidou embora falasse mais com ela do que antes costumava. Mas numa sexta feira, ele convidou-a para almoçarem no restaurante que ficava perto e onde, por vezes, iam para desenjoar da comida da cantina. Ela disse que iria mas na condição de pagar o seu almoço e ele concordou e ela fez-lhe, desta vez, perguntas mais atrevidas. Como é que ele resolvia o seu problema, foi uma delas. Mas qual problema? O das relações sexuais, retorquiu ela, resolvida, como estava, a levar a questão até ao fim. Ele ficou surpreendido, não propriamente pelo tipo da pergunta, mas por ter sido ela a fazê-la. Se fosse outra das raparigas da fábrica, muito bem, mas a Adélia, que ele considerara sempre uma senhora...
-O melhor que uma mulher pode ser é ser uma mulher-
Respondeu com a mesma ousadia: Que resolvia o problema como qualquer rapaz solteiro mas, se ela quisesse ajudá-lo... E ela disse que ia pensar nisso.
Geraldes de Carvalho
|