No inÃcio dos anos oitenta comecei a dar aulas no Ensino Secundário. Com formação cientÃfica adequada, mas sem qualquer formação pedagógica tive de me adaptar bruscamente a uma realidade que desconhecia. Nessa altura os cursos estavam organizados por áreas de aprendizagem, que eram reminiscências dos antigos cursos das escolas industriais e comerciais. Assim havia os mecânicos, os electricistas, as secretárias e afins. Neste contexto as turmas eram maioritariamente masculinas ou femininas.
Numa das turmas constituÃdas apenas por raparigas aconteceu-me algo insólito. No fim de uma aula fui abordado por duas alunas muito correctas e simpáticas que desejavam colocar-me uma questão fora do âmbito da matéria. Uma delas, a porta voz, perguntou-me:
- Sabe-nos dizer o significado de felatio?
(...)
A inusitada questão deixou-me um pouco encabulado e após uma breve reflexão perguntei:
-Porque precisam de saber isso?
A justificação, que já não recordo com precisão, pareceu-me pouco consistente. Contudo, procurei ganhar tempo e disse-lhes que também não sabia dar uma explicação segura, mas que iria documentar-me e depois responderia.
Fiquei com a esperança que desistissem, mas na aula seguinte voltaram à carga. Sem grande escapatória comecei a explicar o mais cientificamente possÃvel o significado da expressão. A determinada altura a porta voz interrompeu-me e disse:
-Obrigado, já percebemos. Despediram-se e quando estava perto da saÃda, voltou-se e ainda perguntou:
-Setôr foi muito difÃcil descobrir a resposta?
-(...)
Mais tarde, numa troca de conversas paralelas na sala de professores, vim a saber que tinham colocado a mesma questão a outro professor, neste caso sem sucesso. O assunto nunca mais foi abordado e confesso que não percebi se foi uma curiosidade de jovens adolescentes ou uma mera provocação.
Passaram muitos anos. Perdi o contacto com essas meninas do Secundário. Actualmente devem ser quarentonas, possivelmente mães de outros jovens, agora adolescentes.
- Hoje ao ouvir, acidentalmente, uma canção de um grupo de rock-Grupo de Baile- e que foi grande êxito nessa época e era passada na rádio com muitos pis- patchouli - recordei-me desta história e das alunas desses pedaços de vida, que pela sua insolência ou ingenuidade, mas também pela correcção e respeito merecem esta pequena alusão acompanhada da canção, sem pis, que a motivou e que à sua maneira é testemunho desse tempo de infância da liberdade.
MG
Essas mÃudas das escolas secundárias
já fumam ganzas na paragem do eléctrico,
como essas barbas com + mousse que pentelho,
dobram-se em duas quando estão ao pé de ti...
http://www.youtube.com/v/gbrSbuRR5wA&rel=1