JLMike
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« em: Março 16, 2008, 14:13:34 » |
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É de facto inacabada. Ou então será acabada embora eu não o entenda ainda. No dia em que entender que é acabada então, talvez, me sentirei melhor para comigo mesmo. Ou então não, quem sabe?...
De nada serves que não para expressar os meus mais reconditos sentimentos, os meus mais intimos desejos, as minhas mais fugurosas paixões (muitas das vezes dirigidas para comigo mesmo - sim, amo-me, sou egoista e egocentrico, ou então serei simplesmente humano, não sei), os meus poucos medos (sendo o maior, talvez, o receio de recear).
És e serás o meu papel (ou o meu teclado, lol) onde despejarei todas as letras do meu ser, sempre que possa, sempre que me sinta capaz.
Dir-te-ei tudo, de ti nada escondo. Começarei no inicio. Naquele dia...
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13 Julho 2007
Gostava de saber se é normal, por vezes, desejar não ter acordado, desejar ter mantido o meu sono durante dias e dias a fio…
Gostava, talvez, de ser um urso e hibernar. Passar, talvez, dois, três meses seguidos isolado do mundo e de mim mesmo, do mundo auto-destrutivo e de mim que, de certa forma, também me encontro, cada vez mais, auto-destrutivo. Imaginar-me como um gato que dorme vinte e três das vinte e quatro horas do dia…
Por vezes fico feliz por ter nascido apenas por poder imaginar o que seria estar morto…
20:53
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1 Agosto 2007
Acordo calmamente sobressaltado, sem sono, com fome… Penso que talvez venha a findar a minha vida da mesma forma – ou melhor – no mesmo sitio que o Grande Kafka – num sanatório… Mas duvido que seja de tuberculose… Acharei a minha morte muito mais aprazÃvel se eu nela mesma tiver mão, ainda que esse seja o maior acto de cobardia…
Mas não é o Homem o animal mais cobarde de todos ?
04:37
*** 2 Agosto 2007
Ontem era para ter escrito mas faltava-me a força até para segurar numa caneta e pressiona-la contra o papel… Pelo que vi quando medi a tenção o meu coração tem batido cada vez menos… Esse facto permite-me pensar mais claramente, é como que se a Morte estivesse a bater à minha porta e eu conseguisse ver em minha frente todas as respostas para todas as perguntas que alguma vez fiz, tão claras como se tem apresentado o Sol este ano, este Verão…
Ao andar pela rua parece-me que o meu próprio sangue não consegue percorrer todo o meu corpo, pelo menos à mesma velocidade… muitas das vezes me sinto tonto e são nesses momentos que vejo as coisas claramente…
Os meus sentidos (todos os sete) parecem tomar outras estradas e mudar de rumo, deixando de me servir de uma forma para servir de outra…
A minha visão passa apenas a servir para não me magoar e afastar-me das pessoas enquanto caminho, deixa de servir para “ver†concretamente, para “aprenderâ€. São apenas dois olhos, dois globos, que mal se mexem e fixam o horizonte puxando-me para a esquerda ou para a direita, conforme quem se me passa pela frente, impedindo o choque…
Mas de qualquer dos modos o meu tacto também decidiu seguir um caminho distinto do habitual. Mesmo que os olhos me falhassem e eu chocasse com algo ou alguém nada sentiria pois o meu corpo apresenta-se-me entorpecido, adormecido… Pouco ou nada sinto já, poderia chocar com mil pessoas que seguiria em frente sem notar…
O meu paladar também mal funciona, serve agora apenas para distinguir entre o comestÃvel e o não comestÃvel, embora ache que não exista muita diferença no sabor…
A minha audição está abafada, entupida. Sinto-me como se estivesse submerso em água e nada existisse à minha volta além de um persistente zumbido silencioso…
Com o meu olfacto é o mesmo, já pouco ou nada cheiro… Acho que poderia viver bem sem um nariz… De momento apenas serve para deixar entrar o ar que me enche os pulmões e faz o coração pulsar vagarosamente…
O meu sexto sentido (porque todos o temos embora poucos ou quase nenhuns o compreendam) – a intuição – segue o caminho dos outros cinco, apagando-se por completo…
O meu sétimo – o pensamento – é o único que trabalha, desenfreadamente. Os meus pensamentos correm com pernas largas, atingem velocidades que nenhum outro pensamento alguma vez atingiu…
Será que a doença (fÃsica ou não, real ou imaginada) ajuda a compreender o pensamento ou ajuda o pensamento a pensar melhor? Ou serei eu que penso – imagino – que penso melhor?
16:44
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