Agora apetece-me “botar faladura” sobre o gato que tenho lá em casa (e só não digo que o gato é meu porque afinal eu é que sou do gato). É um gato que se dá pelo nome de Pintas e tem um comportamento que me faz pensar de que ele sofre de bipolaridade felídea. Ora passa o tempo a dormir, pachorrento, ora agita-se frenético quando lhe cheira a taça de comida húmida (o que não é nada normal nos bichanos).
Mas passo a explicar as minhas suspeitas:
a) já não é a primeira vez que o bichano tenta o suicídio ao saltar pela varanda – também a viver comigo há mais de um ano imagino o seu desespero! –
Só que para azar dele, como moramos no 1º andar, as tentativas de pôr termo às sete vidas não resultam. Para frustração do Pintas também não há trânsito automóvel para o colher nem crianças consequentes nas suas declarações de guerra… isto porquê? Porque à frente do prédio tenho um pátio para recreio onde elas, as crianças, cantam “atirei o pau ao gato, to mas o gato, to não morreu, rreu, rreu”… Enfim…
b) o meu gato deve ter a mania que é o principal vilão de uma trama do Emir Kusturica ou de algum western spaghetti decadente.
A avaliar pela última queda da varanda, que resultou num canino partido, o gato põe-se agora a arreganhar de lado a dentadura. Só lhe falta o cigarrinho ao canto da boca e, para agravar a sua insolência, que me peça dinheiro para pagar o implante de um pivô de ouro.
c) agora para agravar a situação deprimente do Pintas, a gata do bloco em frente está num cio pegado e passa a vida provocar-lhe os sentidos.
Eu no lugar dele também me passava dos carretos se visse uma gata jeitosa na janela em frente a insinuar-se com a cauda empinada.
Quer dizer… às vezes a vizinha da frente (que também é uma gata) descuida-se e deixa a cortina meia aberta… ora eu, que já me dedico ao voyeurismo descarado há uma porrada de anos, lá vou espreitando e tal…
Bom, voltando ao gato, é natural que ele ande desvairado e de bigodes cabisbaixos.
No fundo, o que eu acho é que ele tem um grave problema de personalidade para resolver.
Então, não é que há dias o apanhei a fazer pose de grande felídeo em frente ao espelho do hall? Rosnava forte e eu não sabia sequer qual era o motivo de tudo aquilo…
No passado domingo a minha filha chegou à minha beira – estava eu na varanda a dedicar-me ao voyeurismo doméstico (embora lá em casa acreditem sempre que eu esteja apenas a limpar a caixa dos dejectos do Pintas) – e perguntou-me:
– Ó papá, é normal nos gatos terem uma almofada donut enfiada no pescoço e ficarem a rosnar ao espelho durante horas a fio?
E eu então logo desconfiei:
– Mau! Mas tu queres ver que o gato vai fazer um casting para leão na Metro Goldmeier Brothers e não me avisou?
E diz a minha mulher que entretanto estava a passar pela sala:
– Achas mesmo? Então para isso a produtora de Hollywood que vá buscar o leão de Alvalade…
Ao que eu, um catedrático do mundo da bola, esclareci-a:
– Não me parece minha querida. O Bruno de Carvalho avisou na semana passada de que “a instituição Sporting Clube de Portugal não tem os seus símbolos à venda e o plantel para esta época encontra-se fechado. Já basta o que basta! O Sporting Clube de Portugal está a ser constantemente prejudicado e a esta altura do campeonato deveria já ser líder com pelo menos 55 pontos, contra os 44 do Futebol Clube do Porto ou contra os 25 do Gil Vicente. Portanto, prezados sócios da Sporting SAD, podem estar tranquilos pois o nosso leão não sairá para lado nenhum.”
E pronto, meus amigos: é como vos digo, a vidinha do Pintas não é nada fácil e quando tal é gato para fazer as malas e emigrar daqui para fora.