Carlos Said
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Um entusiasta das letras...
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« em: Agosto 12, 2008, 12:26:32 » |
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Quando o rubor da madrugada com sua luz amanhecida desenhar a silhueta das casas, quando os galos abanarem suas penas iniciando o canto que convoca a aurora, quando as gotas de orvalho deixarem os leitos das folhas para iniciarem a viagem sem volta que umedece a terra... eu já terei partido. Sem rastros de som, para não te acordar. Não deixarei sequer o calor do meu corpo no pedaço de cama que me coube ao criarmos nela a fronteira invisÃvel que nos separava. Terei olhado na penumbra, seu corpo desenhado sob as cobertas, seus cabelos espalhados na fronha, depositado um derradeiro beijo em seu rosto adormecido, que sequer mudará o ritmo da sua respiração. Já vestido terei fechado a porta sem ruÃdo, percorrido o corredor que tantas vezes nos levou ao nosso canto sem recatos. Me despedido dos livros, dos Cd’s DVD’s, do calor que sobrou incorrupto no sofá da sala, não terei tido a coragem de apagar as marcas invisÃveis das tantas vezes que dançamos sós, nem o som que nos levou à dança. Mala em punho, leve, das coisas poucas que levo, melancolia, das muitas que deixo, terei olhado pela ultima vez a sala, as poltronas, e tentado ouvir nosso riso perdido no tempo. Já terei visto as arvores se emoldurando na luz longÃnqua do sol por nascer, aberto a porta, respirado a madrugada, ligado o carro, temendo acordá-la e terei partido. Quando o sol me encontrar na estrada observando a paisagem e vendo o passado se afunilando pelo espelho retrovisor, você já terá acordado. Sentirá minha ausência, e imagino uma dor incerta no peito e a alegria triste como a minha de sentir-se livre, sabendo que cumprimos nossa solitária sina. Ligo o rádio, me envolvo no mundo, acelero o carro, saindo de sua vida para entrar na minha. São Paulo, fevereiro de 2004 Carlos Said
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