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[gdec2001]

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::Ser deus
ser deus um segundo
e ver após o milagre ordenado
os homens ser irmãos
e eu voltar para eles
e amar
ser amado.
Vê-los a dar as mãos
numa roda sem fim
e a bailar como crianças
em volta de mim.
Vê-los tecer de esperanças
flores brancas do sonho
encantadoras tranças.
E depois eu ser poeta
e o mundo o meu jardim
teus olhos os meus poemas
entoados só por mim-
Colher das pedras morenas
apenas para te enfeitar
grandes molhos de açucenas
lindos de ver e cheirar.
Levar-te ao alto dos montes
mostrar-te deus nas florinhas
beber contigo nas fontes
e petiscar camarinhas.
Ver noivados de pardais
Surpreender as estrelas
quando se beijam demais
só para ficarem mais belas.
Ir para junto do rio
ouvir loucas rouxinóis
a cantar ao desafio
sonhos para nós os dois.
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Geraldes de Carvalho
in "Sombras de Alma"
Coimbra - 1955