Sempre actual...

[António Lóio]

«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é
capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (…)Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda
a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda duma lotaria. A justiça ao
arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;         Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar» ... Guerra Junqueiro ... ... há 112 anos!....

[Goreti Dias]

Parece que a roda do tempo parou...
Obrigada pela partilha.
Bj

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

E não parou só em Portugal. Por aqui é muito semelhante.

Obrigado por trazer até nós, Guerra Junqueiro.

Abraço do Oswaldo

[Eduarda]

Tom,

Mudam-se os tempos mas não as confianças.

De actual mais que perfeito.

bj

[António Lóio]

Eduarda
Na realidade este povo está condenado genéticamente... como se de uma maldição se tratasse.
Bj
Tom

[Osni Carmo Rodrigues]

Sem que uma página fosse completada, vários pensamentos se fecharam deixando claro o objetivo. Escolha de um texto muito bem tramado atrai. Enquanto houver tempos, pode ser lido. Excelente escolha.

Abraço.

[Edite Cecília Rodrigues]

Este texto é um bom exercício de palavras, palavrinhas e palavrões que para muitos só com um dicionário perto é que entenderão!
Edite Cecília Rodrigues

[António Lóio]

Osni
Obrigado pela leitura "actual" do Guerra Junqueiro.
Abraço
Tom

Edite
O Guerra Junqueiro lamenta que hoje não se tenha "pedalada" para os seus textos, onde não vislumbro palavrões
Abraço
Tom

[Á flor da pele]

Agreste mas tristemente verdadeiro...
Mas quem sabe as coisas mudam...um dia?

[António Lóio]

Cara Flor
Pode ser...mas não acredito no Pai Natal.

Goreti e Oswaldo
Mil perdões por não vos ter agradecido em devido tempo a v/ disponibilidade para o Guerra Junqueiro.
Abraço
Tom

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Claro que está perdoado. Só não pode é deixar de publicar textos ótimos como esse.

Abraço do amigo Oswaldo.

[margarida]

Guerra Junqueiro será sempre Guerra Junqueiro. Digno representante das nossas letras