vitor
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Olá amigos.
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« em: Agosto 19, 2008, 14:04:35 » |
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Pela janela sinto entrar o brilho do tempo. A varanda des-pida envolve-se no arrufar da rua. Todos os dias cedo ainda. Saudades de dizer bom dia, Bom dia ao dia num jasmim do sol. Sorvia suave o vento, pelas orlas nuas da porta, o cor-rimão aguçava o silêncio num eco brilhante, de fora entrava suave a cor da rua, de onde vinhas e eu estava, delicada-mente. E a noite desfaz-se nos rastilhos deste sol, o sabor gordo de babas numa gincana entre os dentes, ramelas como obstáculos tiram a nitidez do momento, e eu apenas sei, naquele momento, sentir os olhos da pele encostarem-se ao lençol ainda quente como se o sonho não tivesse terminado ainda. Descubro de seguida as entranhas da pele e levo o corpo ao prazer de um duche, salpicando suavemente sobre mim jorradas neste chuveiro enferrujado e de cheiro velho, gasto, cansado, moribundo. Ejacula por todos os buracos partes de agua como uma fonte desapontada em sobressaltos e sem orientação, as aguas cegas que molham ali o calor vadio do meu corpo. A tua mão encolhe-se, amenizada, numa distância apenas reflectida pela não sensação da presença material das tuas necessidades, os gritos ténues de caules que balouçam com soluços rendidos ao colorido e desesperado corpo onde consiga avistar a serena vontade de ter-te. OrquÃdea. No cheiro raso e obtuso de um vaso entornado nos terrÃveis sonhos que um dia tivera, na maré torta desta casa com o cheiro ainda dos beijos intrincados neste microfone encar-dido de saliva inventada como quem berra os suores frios e cálidos apelos à noitada contigo no dia anterior, sobre poros talvez, qualquer refugio constipado de morar-te no útero com mais desejo ainda por ti, como se esta fosse a primeira vez que fizera alguma vez com outra mulher qualquer, e não conseguisse depois expulsar-me ou explicar-me com que exactidão, por quantas partes se divide o regresso ao quarto abandonado de terrÃveis e incuráveis ausências de mim mesmo, neste quarto de noites simplesmente pintadas em telas da imaginação. Ou com que impessoalidade viajante se veste adormecida ao cheiro nómada desta agua fertilizante que me viola com prazer os suores do corpo. Direi ainda um dia aos vizinhos deste campo como se tor-neiam com tornos tortos do tempo este tédio interrompido apenas por lapsos de memória. Com rastilhos acres.
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