pedrojorge
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« em: Dezembro 03, 2007, 21:33:29 » |
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Estabelecia-se no sofá de um cinema, desencantava confortavelmente uma braçado de pipocas. Temporalmente, pouco mais de si do que os dentes moía as pipocas. Estreava-se os trailers publicitários, os murmúrios de uma reunião geral escapavam pelo ar, os lugares vagos avolumavam, com reserva do banco esquerdo à sua esquerda, o penúltimo da dianteira de uma fila da direita.
Reconhecia crenças, opiniões, convicções, falhas ao desfecho. Começara o filme, um silêncio temperou a concepção de estar ali. Inteiramente encaminhava-se a uma análise, nada mais importava do que a sua percepção do Mundo (Universo). Naquele segundo escorreitamente a sua mente metalizou-se, os movimentos abrandaram, uma sensação de afastamento do seu próprio corpo repesou-lhe nas moléculas de oxigénio e azoto que envolvia, teve a noção de que se fosse há milhões de anos tinha transposto hidrogénio e que o efeito tinha sido o mesmo, uma reperfuração da ressonância magnética, a sua interpretação.
Tonalizara-se um efeito da cafeína, regressara numa instante ao seu corpo e parece que a travagem reproduzira ecos de egos. A variação das combinações de transístores do projector estabilizou, uma mesma imagem, uma fragmentação, uma pergunta.
O cérebro fervilhava, o crânio era rendido pelas explosões de lava que o ensopavam numa falsa noção de não acreditar no que concluía: era contra a sobrevivência, estupefactamente desligado de si mesmo. Os olhos esbugalhados da sua imaginação perplexos nele, a corroborarem o corpo com críticas invisíveis, nascia um contra-si, medrava um que pensava por si, esmerava um contra os dois, ingurgitava um que se sobrepunha a quaisquer temas, outro que decompunha o perfeccionismo de todas as percepções e as depunha.
— O que querem de mim?
— Desacertado. — A dormência gorjeava da luz dos olhos. — O que queres de ti! O que queres no estar aqui! O que é pensar estar aqui! O que é pensar vem de ti! Inspirações sensoriais, cultura biológica. Acreditas num fundamento? Na tua intuição? Na firmeza de que és imperiosamente livre?
Algo sombreado, um rosto cuja existência era declamada pela imprecação de redundar vozes, que realmente estaria a pensar sobre estar ali?
— Não teçam ideias. Que penitência dar-vos voz, vocês vêm de mim! Porquê ouvir-vos se me reduzo a um humano, que tal como dizem, é culturalmente biológico?! Se todas as suas bases são de cariz patogénico ou de continuidade?
— Repara no seu carreiro, nas suas restrições, na sua computação, na sua vivacidade, no que eles são!
— Calem-se! Esvaziem-se, arrumem-se, não passam de ideias, de burburinhos no meu pensamento que com falhas no sistema cognitivo insurgem, provocadas por falta de nutrição, de vontade, de afeição a mim. Não faz sentido, porque facilmente sou ultrapassado no que realmente interessa. Não faz, porque com as vossas ordens, superintendências, generalizações, tudo é aparente, não passam de visões que não mudam, que não me consomem para melhor!
— Atenta na singeleza da actividade, consiste basicamente na descrição, no relato do Universo com o universo, consiste em crenças mal pensadas, basicamente influenciadas, pára e pensa, observa o local aonde estás, o que estás aqui a fazer se um dia irás fenecer? De que te vale o bem ou o mal? Do que te vale preocupares-te com o bem ou o mal? Do que vale preocupares-te em saber porque estás aí se tudo o que te rodeia não tem porquê? Porque não esqueces tudo e te fixas na certeza, de que tudo poderia ser diferente, a gravidade ter um resultado oposto. Crês, só crês, vês padrões, admite-los como verdadeiros e inviáveis, e dás um seguimento a ti, tornas-te previsível e és uma imagem do instinto, o que nem merece qualquer atenção.
— Não! São só medos! Só grandezas lógicas equivalentes a crenças que me fazem caminhar contra a linha para que não admita as minhas falhas e normalidade, porque penso na auto-realização!
— Obviamente, normalidade, menos um como o normal ou mais um que diferença faz quando é praticamente nulo na contabilização do total? Auto-realização, o problema é que as respostas colaboram nesse vivido, não, não existe auto-realização, não penses pelo que aprendes, tens mais probabilidades de acertar partindo do que não existe do que existe, já que tudo o que existe é demais!
— Deixem o rapaz em paz! Estão a fazê-lo perder tempo! Somos ele, tratem-no por ele mesmo! — Um enrodilho gradou até aos membros, até às costas, sentou-se, naquele momento todos o olhavam atenciosamente, como se o filme tivesse rebentado para o lugar 324-D. Que estariam eles importunamente a fazer? De que lhes valeria? Seriam uma regra de controlo? Estariam a aproveitar-se das fraquezas dele? Ou era o início do proveito que iriam tirar quando vissem que era uma preza? Do que tinha ele medo?
— Sou eu! Eu odeio! Não perco mais! Não faço mais! Faço ou não faço! Calem-me! Por favor, emudeçam-me! Eu não existo, tudo é falso, o que é existir, é ser-se controlado? Deixem-me em paz! — Gritava com a reverberação da sua mente, reflexões que prevalecem em espelhos múltiplos. E de um pequeno momento de falhas psicológicas formou a cronologia da sua vida, pequenas fitas fotográficas complexas que exibiam uma ideia simples… Saberei que terá sido assim? Ou saberei apenas o que compôs?
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