Antonio
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« em: Março 05, 2008, 14:29:17 » |
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O dia tinha sido de canÃcula. A noite estava menos quente mas, mesmo assim, só regressei ao quarto do hotel barato onde me alojara depois de ter estado numa pequena esplanada, junto ao mar, a apanhar um pouco da aragem que trazia um cheirinho a maresia e uma agradável frescura. Deixara a janela do 105 aberta para que o aposento também arrefecesse com o ar da noite, pois pudera verificar que o ar condicionado não estava operativo. E, de facto, parecia já haver as condições de ambiente que me permitiriam deitar sem que a temperatura retardasse a minha entrega a Morfeu. Fiz a higiene habitual, baixei a persiana deixando umas frinchas abertas e não fechei as vidraças. Puxei a roupa toda para baixo e deitei-me nu sobre o lençol que cobria o colchão. Liguei o televisor, passei por meia dúzia de canais e desliguei-o de novo. - Vou dormir! – disse para comigo. Estiquei o braço e desliguei a luz que estava colocada por cima da cabeceira da cama. Pouco depois, estava já a acarinhar o sono, ouvi um ruÃdo que me era familiar: o zumbido de um mosquito. Não liguei, mas pouco depois o mesmo som passou-me junto ao ouvido de modo a deixar-me mais desperto. Um segundo voo rasante demorou poucos segundos a acontecer. Depois fez-se o silêncio. - Vamos lá ver se adormeço agora... – cogitei. Mas não tardou muito para sentir na coxa esquerda uma incomodativa picada. Lá estava ele ao ataque... Sacudi a perna e ouvi-o a voar lá mais ao longe. Todavia, rapidamente o zunir do insecto veio até junto da minha cara. Tocou-me, mas abalou de imediato e deixei de o escutar. Foi efémero o sossego. Logo a seguir ouvi o maldito e senti uma espetadela junto da orelha que estava voltada para cima: ainda a esquerda. Sacudi o irritante animal com a outra mão. Não me apercebi de mais nada durante algum tempo e procurei novamente passar para o mundo dos sonhos. Mas eis que a dor de uma picada se fez sentir no pulso. Zás!!!!! Apliquei uma forte palmada com a mão direita no local onde o impertinente bicho voador estava sugando o meu sangue qual vampiro da Transilvânia. Já começara a sentir um nervoso miudinho por não poder sossegar, por isso tapei-me com um lençol deixando só a cabeça de fora. Felizmente o calor era suportável. Estava quasi, quasi a adormecer quando um caça-bombardeiro em voo supersónico passou mesmo junto à minha cabeça. E, ainda não refeito, lá veio um novo ataque provocador. Não! Não podia ficar só na defensiva. Tinha de contra atacar com toda a ferocidade que ditava o sangue já a ferver-me nas veias. Acendi a luz, levantei-me, peguei na travesseira com ambas as mãos e levantei-a acima da cabeça enquanto com os olhos tão abertos quanto possÃvel comecei a observar o tecto e as paredes brancas ou de cor muito clara. Caminhava semicurvado e pé ante pé para não afugentar o meu enervante inimigo. Ouvi a sua sonoridade sibilante e procurei localizá-la. De repente fez-se silêncio e pude ver o caçador de sangue poisado numa parede. Aproximei-me lentamente e projectei a almofada com toda a força. Deixei-a encostada, segurei-a com a mão sinistra e dei dois murros com a dextra, assim descarregando a raiva acumulada. Depois retirei a travesseira e pude ver, com um sorriso sádico desenhado no meu rosto, sangue na parede e na fronha. Ganhara! Voltei para a cama, coloquei a minha arma de ataque no seu lugar, tendo o cuidado de pôr a parte com sangue para baixo, tapei-me com o lençol, apaguei a luz, enrosquei-me na posição fetal e recomecei a embalar o sono.
Estava quasi, quasi a adormecer quando ouvi um zumbido...
(escrito em 22 de Novembro de 2007)
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