Vóny Ferreira
|
|
« em: Dezembro 06, 2008, 13:07:07 » |
|
A primeira prenda de Natal que Inês recebeu, foi um pintainho amarelo, que o avô lhe ofereceu na véspera de Natal, tinha ela 8 anos. Pelo segundo ano consecutivo, tinha deixado uma carta junto a uma imagem de Jesus, nu, deitado em palhinhas, que a mãe tinha numa velha cómoda do seu quarto. Nessa primeira carta, aos 7 anos, Inês, tinha pedido livros e botas castanhas para não sentir a humidade infiltrar-se nos pés quando chovia, naqueles Invernos rigorosos. Como acontece a tantos meninos, Inês, nesse primeiro ano em que deixou uma carta ao menino Jesus, não recebeu nada do que pediu. Inês, ficou desgostosa, porém conformou-se quando o avô, apercebendo-se da sua inocente tristeza, se encarregou de lhe fazer compreender que havia muitos meninos à espera de comida e de roupa. De tal forma, que alguns dos pedidos acabavam por ficar para trás. - Talvez para o ano… cachopa, talvez… - disse o avô com a voz um pouco embargada pela comoção.
Nesse ano, Inês, voltou a deixar a carta no mesmo sÃtio a pedido do seu avô. Mas desta vez na carta apenas escreveu o seguinte: DÃ-ME O QUE ACHARES QUE MEREÇO, JESUS!
E eis que desta vez o seu pedido tinha sido ouvido. – Pensou, Inês, no exacto momento em que o avô, sorrindo, exclamou: - É para ti cachopa. Olhando Inês, ostensivamente, e piscando-lhe o olho, acrescentou numa voz brincalhona. - Andas sempre a dizer que o Menino Jesus não se lembra nunca de ti no Natal, toma… lá! Desta vez o gajo deixou isto para ti e pediu desculpas por não te dar um livro como tu tanto querias. Lá dentro ouvia-se um piupiu agonizante, como se aquele pintainho minúsculo pedisse socorro em cima de uma jangada prestes afundar-se. Inês, feliz, sorria, sorria, só de imaginar que ia ter um pintainho só para ela. Inesperadamente o seu sorriso foi abafado com o protesto indignado da mãe. - Pai, valha-o Deus…! Agora fala de Jesus dessa forma à criança? Gajo? Isso é lá forma de se falar de Deus? - O gajo sabe que eu não vou muito à bola com ele, mas que o respeito. - Disse o avô mordiscando o cigarro que teimosamente mantinha aceso no canto da boca. Inês, pegou na caixa comovida e afastou-se rapidamente pois não gostava de ouvir o avô e a mãe entrarem em discórdia.
Inês baptizou o pintainho de IsaÃas. Como na noite de Natal havia uma maior condescendência por parte da mãe, teve a permissão nessa noite para dormir com o pintainho no quarto. Adormeceu, feliz, abraçada à caixa onde o pintainho permanecia, agora rodeado de velhos panos para o aquecerem. IsaÃas, tornou-se com o tempo um galo esplendoroso e irrequieto. Gostava de namorar as galinhas, de mordiscar os altivos hortos. A sua maior ventura era poder correr livremente atrás das galinhas, em correrias desenfreadas no quintal. Inês quando o via naquela espécie de jogo do gato e do rato, ria à gargalhada.
O avô de Inês prometeu que aquele galo nunca seria morto para consumo da casa e manteve a promessa. Porém... IsaÃas, acabou por morrer nas garras do Boby, um cão frustrado que um dia rebentou a corrente e despejou toda a sua fúria no velho galo. Inês chorou muito quando o avô lhe mostrou o sÃtio onde o IsaÃas tinha sido enterrado. Durante alguns meses, recusou-se a ir levar a comida ao Boby, pois continuava magoada com ele. A vida é assim…! São destes pequenos nadas que retiramos a aprendizagem para prosseguirmos o nosso caminho relembrando o lado positivo da própria vida… (VÓNY FERREIRA)
PS: - O tÃtulo não é original, visto haver um filme (creio…) com este tÃtulo. Ressalvo por isso esse factor. À memória do meu querido avô, que foi indiscutivelmente o meu primeiro grande idolo. Dedico esta crónica, a todos os meninos, GRANDES E PEQUENOS, que pouco mais têm no Natal do que os seus sonhos. A pobreza que conheci na infância, ensinou-me pelo menos que … NUNCA DEVEREMOS DEIXAR DE SONHAR …PORQUE NOS NOSSOS SONHOS QUEM MANDA SOMOS NÓS!!
Vóny Ferreira
|