OLHA AÊ O PICOLÉÉÉ!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

OLHA AÊ O PICOLÉÉÉ!

   “Olha aé o picolééé!” Esse era o sinal. Havia sorvete no palito feito de refresco instantâneo em pó colorido e aromatizado artificialmente.
Toda vez que alguém passava vendendo picolé, a criançada gritava “Água pura ninguém quê!”. As mães ficavam com vergonha e brigavam com os filhos. Mas quem as ensinava eram os próprios adultos, desejosos dos filhos tomando suco de frutas naturais ou vitaminas de leite batido. Evidentemente queríamos aquela bomba gelada de corantes manchadores de língua. Eu preferia o de morango não pelo sabor, mas pela cor. Nunca queria o de limão porque era incolor ou esverdeado. Era um inferno para as famílias desejosas de uma alimentação saudável para os filhos. O grito do garoto com isopor a tiracolo debaixo do sol chamava os pequenos às degustações diárias. Felizmente, quando as estações eram quase definidas, havia jejum anual de outono e inverno.
O moleque parava no meio da rua. As fileiras de crianças surgidas dos quatro cantos marchavam em direção do pequeno trabalhador e giravam em sua volta num falatório incompreensível. Em minutos sumiam todos os sorvetes da caixa branca de isopor. Ninguém saia da presença do vendedor sem seu picolé. Alguns tropeçavam. Outros empurravam, mas todos saiam satisfeitos cobrindo suas línguas com tinta gelada. Até quem não tinha dinheiro era financiado. Não poderia deixar de ter sua língua manchada e a boca roxa. Afinal de contas, chupar gelo colorido era algo extremamente necessário de se fazer mesmo que uma única vez em cada dia quente das férias de verão.

[Goreti Dias]

Delicioso texto. Tão delicioso como esse gelado.
Abraço

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Que bom que gostou.
Hoje faz um frio terrível por aqui. A sensação térmica ainda piora pela umidade do ar e pelo vento chicoteando. Contudo, se me oferecessem um sorvete, aceitaria de bom grado.

Abraço...

[Eduarda]

Oswaldo,

Lembranças de infância que nos marcam. Os sabores que perduram no tempo.

bj

[Edite Cecília Rodrigues]

Memórias de infância, doces e alegres. Também nostalgicamente as tenho e da infância que momentos muito felizes me fez passar.
Edite Cecília Rodrigues

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Oi, Eduarda...

Que bom que você gostou do picolé.

Oi, Edite...

Muito prazer em sua visita. Seja bem vinda.

Beijos do Brasil para as duas.

Oswaldo

[gdec2001]

Ó, ó Infelizmente, na minha terra, quando eu era criança, nem se sabia que havia picolé , nem frigorífico nem geladeira ,não. Por isso me espanta a vossa saudade. Como gostaria de tê-la também...
Bem, a partir dos 12 anos, quando fui para o liceu já havia, lá na cidadezinha e lembra-me de ter provado algumas, poucas, vezes. O que me agradava mais era o friito daquela água colorida . É que nessa altura os frigoríficos eram muito raros e na "minha" casa não havia não.
Um abraço para vós
Geraldes de Carvalho
 

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Oi, Geraldes...

Mas uma coisa certamente você teve na infância e eu não. Na realidade, só vi de longe já na idade adulta. Foi a neve. Sempre quis ter uma foto minha brincando com o boneco de neve e atirando bolotas nos amigos. Talvez resolva essa falta daqui a um ou dois anos quando visitar algum país onde haja neve (ou mesmo a Serra Catarinense ou a Serra Gaúcha aqui mesmo no Brasil no inverno).

Grande abraço e obrigado pela leitura e comentário.

Do amigo Oswaldo

[marcopintoc]

Oswaldo

Não pude deixar de sorrir ao ler este texto e relembrar o equivalente ( infelizmente extinto ) luso a esse pregão que era o saudoso "Olá Fresquinho, há fruta ou chocolate "
Abraço
Marco

[valeriasoares]

Nossa! Saudades da infância. Minha mãe fazia picolezinhos em forminhas de gelo. Economizava e fazia a nossa alegria!

Adorei.

Abraços.

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Olá, Valéria e Marco...

As recordações da infância são ótimas realmente.

Grande abraço aos dois e obrigado pelos comentários.

Oswaldo

[gdec2001]

Sim, tem razão .
Neve nunca me faltou, não.
E o frio
correspondente.
abraço
Geraldes de Carvalho

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Olha que coisa! Na minha garimpagem pelo Escritartes, encontrei um texto meu comentado e sem resposta.

Vou responder agora.

Obrigado, Geraldes, pelo comentário. Ainda não toquei a mão na neve. Somente a vi de longe. Espero ainda voltar a ser criança no momento em que tocar nessa água flocada que cai do céu.

Abraço.

Oswaldo