Destino peregrino

[Inês]

Destino peregrino
 
 
Errante peregrino entre vozes de ondas,
nos olhos medrosos duas corças submarinas
e o coração quente qual pássaro de sonhos,
afagando num esquecer de névoas úmidas
seus rumores na garganta meio carne meio alma.
 
Espiga crua hesitante clama ao sol noturno
que se fraternize ao seu costado de canto,
agasalhando seu corpóreo colo de inverno
 cheirando a deserto gelado, que anseia, anseia...
enquanto o pulso de todas os relógios se fatiga.
 
Tudo dorme à sombra das horas morosas
mas seu grilo canta, sonha, inventa, oh, boêmio!
Errante do lodo e das rosas brancas
padece absorto sua miséria de pão e luz.
 
Ante o abraço das árvores lhes bebe frescor
junto com os pássaros, as pedras, os rios,
errante aventurado em êxtase dos eflúvios
e das esperanças frescas alto clamando
que lhe cante a chuva ou soluce, ou em Paz
lhe deixe chover solitário em seus jardins de vidro,
apenas caminhando com suas carnes molhadas.


Inês Marucci

[Goreti Dias]

Clamando o sol nocturno, lemos nós tão bela poesia!
Abraço