O CAIR DO PANO

[josé antonio]

Relembro as centenas de cenas
que representei ao vivo
num faz de conta de vida real.
Recordo luzes e gritos do contra regra
umas vezes com voz feminina
outras com a voz do Criador
numa repreensão de coreografia sublime.
Penso nunca ter sido actor
mas representei como represento sempre que quero
não fosse o racional suficiente para sobreviver.
Depois da glória ou do fracasso
habituei-me a ver o pano cair sem alegria nem lamento
caindo apenas por ter de cair para terminar a cena.
Mas nós artistas eu e os outros como vós
mesmo com o pano caído continuamos
sem guião nem deixas nem luzes
crentes numa salva de palmas final
no desterro do nosso cadáver
nunca do nosso talento de actores inveterados.
 

[Goreti Dias]

No teatro como na vida... assusta um pouco.
Abraço

[josé antonio]

Também dependendo do artista...
Abraço

[Vóny Ferreira]

Muitas vezes temos que representar,
mais que não seja para que não façam
da nossa vida um circo...
Gostei pelo poder reflexivo, que tem este poema.
Saudades, José, saudades...
Vóny Ferreira

[António Lóio]

JA
Um texto pejado de boas recordações dum actor. Como na vida, ao cair do pano, também nós gostamos de ser apreciados, ou pelo menos, pensarmos que esta passagem pela vida não tenha sido em vão.
Abraço
Tom

[josé antonio]

Vóny,
Conceição
e Tom,

Aquele abraço daqui até aí, sem interrupção nem soluços...antes que o pano caia!
José António