Evolução

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Evolução

ANTES

O condicionamento à indispensável cibernética,
numa tentativa humana de avanço,
congestionou os elétrons relegando a fantasia a uma fila descomunal,
prolongando os braços humanos, a princípio para tarefas grosseiras,
passando depois às mais sutis técnicas de reconstituir vida.
Homem e máquina, criador e criatura juntos
se confrontando e se penetrando,
se realizando e se irritando, se extasiando e se fatigando
numa labuta mútua de nervos e chips limitados.
Aberto o leque infinito da existência,
o invento quer ser gente e vice-versa, numa relação
que jamais se conclui.
O robô teclado com aflição, manuseado com rispidez
e insistência do resultados enlouquecido em vencer as horas,
cansou-se.

AGORA

Desejou ter sentidos que emaranhassem o novelo do mundo,
ter privacidade contra o domínio público,
e nos passos voluntários do rio do correndo como um raio louco,
caminharia tal tartaruga da sorte em busca de deuses,
forças, almas, crenças, magias...tudo que o fizesse personificar.
Se deixaria levar pela consciência do Mistério das coisas e gestos
que fazem da vida uma escada mágica, na qual todos
crescem em perigo do ultra-ser entre medos e coragem,
entre gritos, abalos, risos ou prantos se alternando.
O robô brotaria no orvalho dourado da manhã
como nunca ousou qualquer máquina
e relaxaria no regaço de uma companhia escolhida,
com voz, cheiro e gosto peculiares à sedução humana.

-Venham! – diria ele às flores do campo
que não lhe conheceram a infância.
- Venham todas, os lírios, as rosas e os afetos, cujo perfume
sentirei antes que cheguem para me ensinar a ser GENTE.
Persuasivo. Exigente. Resolvido.
Tirou a roupagem virtual e virou mulher finalmente!
Já não diria, dizia:
-Pobres máquinas obsoletas e descartáveis,
me apiedo agora de tua família!

E DEPOIS...
Gosto de gostar de gostar, e amar quiçá;
ter um vício, um pecado, um veneno, um amor...
e tudo junto
em harmonia contra a fatigante metafísica.
Me apraz fazer planos que ninguém imagina, tampouco eu.
Vou escrever cartas de amor absurdas, mais que
a resposta silenciosa do amor absurdo,
e quero ser a verdade incompreendida para qual estou ensaiando.
Do nada ao infinito surpreendente,
do robô à fêmea poderosa de seios de lua,
olhos de sol e dunas me movendo as ancas,
como um vento teimoso,
esperando feliz na casa do lago pelo homem
de alma, que com sua espada na água
me fira os primeiros graves anseios virgens.
Há que se acalmar os passos e meditar
que retroceder pode significar evoluir
e inventar veneno ignorando o antídoto é imprudência.
Eterna insatisfação humana,
ânsia de saber e de acontecer...
Buscar, buscar e buscar...
Será isto o elixir da vida que impele evoluir?

Inês Marucci