Sexortográfico

[Jorge Luiz Alves]

Faço sexo diariamente
com cada palavra do vernáculo;
com cada letra do alfabeto,
cada vírgula que, indecente,
pontifica-me as reentrâncias do cérebro;
levam meu coração ao êxtase, e
conduzem-me a um supremo espasmo,
traduzido em belo e quente gozar
nas teclas frias do computador.
Não importa como, quando e onde:
elas me assediam e me possuem
nas boates, bares, ruas, praças e puteiros do saber;
ignoto, prostituo-me pelo bem da ciência
do bem escrever;
permito-me, másculo, à fêmea atratividade
das metáforas envolventes,
da rigidez conspícua dos sonetos,
o bem estudado vai-e-vem dos eufemismos,
e, mesmo a leviandade criminosa de alguns cacófatos
fascina-me, impudico,
a cada litero-bolinação.
Aos poucos cedo-me, introspectivo,
aos bons e sorrateiros eflúvios, sonsos em charme dúbio
para uma escandinava seriedade
de alguns neologismos;
e sofro, numa oferta profana,
das introduções dolorosas das críticas literárias:
minha vez há de chegar; e,
onosmático, enfilerarei minhas algozes
para um decisivo acerto de contas
na revisão orgástica dos dicionaristas;
ejaculando em completa felicidade
a cada lançamento das edições.
pois, cada sexo bem caligrafado
é um rebento por mim, inseminado;
o qual fecundo e dôo ao mundo
com incomensuravel orgulho.

[Goreti Dias]

Criatividade a toda a prova! belíssimo!
Um abraço

[britoribeiro]

Intenso!!!

Abraço

[Inês]

Querido Jorge

Que habilidade com os versos e com o humor, continuas excelente,
parabéns e grata por compartilhar conosco tua poesia.
Um beijo

[João Videira Santos]

Criativo, imaginativo...vamos colocar nesse texto todos os adejctivos a ele comuns.
...Esqueci dizer que gostei.