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A calúnia era uma moléstia causada por bactérias existentes nas fontes e nas portas das capelas, os samarras precaviam-se e feitos de pedintes proferiam nomes de famÃlias de outorgantes de guita de jeito à infâmia converter-se em rumores e boatos. Nasciam ali os heróis, o manjerico das flores e o cetim. Encetava-se o Outono, a descamisada de milho. O bailarico em redor da labareda, a gentalha descalça, os da velha guarda de tamancos. Na cidade sem botas é que não caberiam.
Na chã de amanho avolumavam o milho e o trigo que o regime impunha na plantação, desertara a vegetação Amazónica do Alentejo, uma tanto mais lenta, o paÃs sabotado pelo sossego vestia a casaca e hasteava alas, a missa do Domingo avizinhava com o tamanho do pedalar do pároco, numa bicicleta de chassis derreado.
«Lobrigava o imenso campo vazio, areia era o que era, a provÃncia rente à outra do Sul. Campos inférteis, dali nada havia nascido. Criação de gado, uns mini-mercados, umas “vilazecas†pelo meio, Oásis portugueses é o que é. Vim lá do Centro e mato foi o que o vi, hoje em dia com os subsÃdios não lavram as terras. Aonde é que isto vai parar, meu Deus?»
As chacras dos populares estouravam, quem debulhasse a espiga especial iria… e lá estas tradições recordavam a dos Maias, o sábio a contar a profecia, o mais velho da aldeia, mas lá não havia triagem, desde que fosse sinistra e beata, ou garantisse o pessoal lá dentro. De imediato sobrevinha o desgranar, da oliveira alguém apreciava as novatas, os lenços eram o estorvo, «raios» praguejava um dos gaiatos. A eira esguichava nas plantações, visionava-se a transpiração, a fadiga, a vaporizarem as laranjeiras proibidas, as macieiras…, as figueiras…, as nespereiras…, os pessegueiros… «Filha, se tocas aà calha-te uma bofetada», «Oh experimenta aà mexer e depois vês», inoportuna loquela, esperava cegar a filha ou quê?
«Cinquenta anos haviam desvanecido, sobressaltava na sua educação inflexÃvel, era o centro do mundo, os filhos tentavam corrigi-lo. E os filhos dos outros tinham sido os pedagogos dos seus, não queria crer, fora o que calhara, aà está, discoteca e bares e praia e férias e trabalho, ninguém vive da agricultura hoje em dia, era a frase que lhe restava. Cinquenta anos depois, aonde é que alguém se mete durante meio século? Dois quarteirões, que grande colheita, do que ali nascera, nada havia mudado, o escândalo do costume, era aquilo uma criança de 50 voltas solares, cinquenta voltas… Até o Sol já deveria estar tonto… Por amor de Deus, aonde é que alguém se mete durante cinquenta anos e no ribombar do barco da vida vai desencalhar ao porto onde embarcara com um alqueire de tostões, pouco mais de um quarto da sua idade e quase um quinto dela…»
Retornavam do chafariz, pés molhados, distraÃdos dos caules, pisavam caruma e pedras eram calcadas. Os pinheiros ficavam atrás, um dia seriam cortados, e cairiam, tirar-lhe-iam, a caruma que enquanto hirtos parecia infinita, viam-na como o pão que alimentou Moisés e que caiu do céu durante a escuridão, e as ramas. Era noite cerrada, passavam diante das Oliveiras, os dois irmãos divertiam-se solenemente desacautelados do porquê disso, um tremelicar dos ramais do olival, azeitonas caÃam, adveio um incalculável vulto quimérico que os fez entornar os cântaros de barro, olharam a do lenço firme ao queixo, de saia, de camisa com flores, de rosto cândido, rosada nas faces e delgadamente elegante, a água chovia a cântaros dos olhos da Maria…
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