Era a primavera a sorrir com um sol num tom refrescante, as chuvas passadas, o tom da casa da praia a melhorar, perdendo as carrascas que se apegam às casas em Invernos incessantes. A casa ainda num tom misterioso dos ventos abismais e das nuvens que abraçavam o Sol. As portas engomadas da madeira estática.
Ela aparecia no encanto da manhã. Era filha de uns amigos dos avós com quem fui passar férias naquela praia em que a natureza outorgava a fase metropolitana mundial. Usava calças de ganga justas, uma blusa verde e umas All-Stars vermelhas, as originais. O cabelo era longo como vastas linhas que se estendiam por campos de trigo que sobressaÃam e davam um novo rumo estocástico à sua postura esbelta, sublime, feminina.
Era um azougue que me puxava num redemoÃnho de terra movediça como em zonas de pântanos. Um labirinto, o mundo da Alice no PaÃs das Maravilhas, os incontornáveis dilemas paradoxais, a luz ao fundo do túnel, o brilhar dos seus cabelos castanho nÃveo. Era um cataclismo e ainda assim doce e terno, o que muitos chamariam de amor à primeira vista e eu chamava de perdição. Nem que eu não saiba dançar.
Dei-me com ela, brincávamos na areia, rodavamos naquele requinte que só dois corpos astrais conseguem, segundo as leis de Newton, segundo Aristóteles, segundo Einstein, segundo Jesus Cristo, e sem pecado porque ambos querÃamos e a sua felicidade criava um enredo que esquematizava bem mais que duas palavras de algodão doce.
Era uma neblina entre o vocabulário, a nossa alegria estabelecia o que muitas leis da natureza ou computadores não conseguem expressar, era o lado emocional humano, o ênfase de nos darmos e não haver mais ninguém na praia, o cigilo, a liberdade. Os beijos que aqueciam as marés, que curavam os piores males, que levantavam nações e estendiam longas frases de heroÃsmo aos nossos lábios. Que se completavam.
E numa manhã acordo naquela casa da praia, sem sequer ter alguma vez pensado no fim das férias e vejo que ela fora com os amigos dos meus avós, tendo voltado tudo ao Sol fresco da Primavera, e eu nunca mais a vi, permanecendo para sempre nos meus sonhos, naquele lado ininteligÃvel, o lado que procuramos perceber para atingirmos a fase espiritual seguinte. O castelo de areia que gostávamos de desfazer e voltar a fazer, pondo grão a grão, empilhados como se faz com os blocos de tijolo e eu era bem capaz de redirigir este texto duas vezes seguidas igualzinho, mesmo sendo uma história imaginária. E aquela praia imaginária se tornou em algo mais no canto entorpecido da mente, nos segredos que nos tornam Humanos para sempre.