MOMENTOS PARA DIMINUIR A QUEDA

[Marília]

MOMENTOS PARA DIMINUIR A QUEDA
Marília L. Paixão

Desfalecida desço a rua em que subia.
Desabrigada desço ao pé da calçada.
Desempregada subo no piso superior.
Será em que pesadelo estou?

Estou caindo
Estou subindo
Estou me pondo
Onde me componho?

Toco o céu e está frio
Parece neve
Será que lá dentro ferve?
A neve queima
Eu sei.

Eu nunca morei no mar
Nunca escalei geleiras
Não gosto de piscina fria
Não gosto de banho-maria

Mas pior que tudo isso
É ficar com as mãos inseguras
Isso é que é perder o chão
Segurar firme é não perder a razão

Ouço, falo
Aos poucos vou aprendendo quando calo
E também ao escrever palavras em segredo
Às vezes elas vêem o que não vejo.

Lá bem distante há um mar de água salgada
A terra é morna
Por aqui passa um rio de água doce e algum frio
Há pessoas que perdem casas com a chuvarada
Passam por dores desenfreadas

E eu passo por tudo ao passar por aqui
A primeira casa dela se alagou quando ela não mais morava
Edificou-se rapidamente ao mudar de pátria amada
Quem ficou se acudiu, o rio não destruiu a fé brasileira
Cada um supera perdas e dores a sua maneira.

E ela?
Perdera os sonhos
E ela?
Desbravou horizontes
Está quase chegando na metade
das histórias
mais belas.

[Goreti Dias]

Então esperaremos pela outra metade...
Bjs