A dama da noite

[Abgalvão]

Na rua da esquina fazia seu turno
Olhando, enfadada, os homens passantes
Corpete látex… e a bolsa vazia
Rodava, rodava, em voos errantes

Nas pernas e cara as marcas vincadas
Que o vento da esquina, agreste, marcou
As linhas da vida eram linhas cruzadas
Que o tear da angústia, na rua, fiou

Idade sem rosto num corpo sem viço
Forçado a prazeres em colchões de penas…
Com lábios já secos se apresta ao serviço
Que o chulo é marreta e não vai em “cenas”

Nos olhos, os sonhos haviam murchado...
Da boca, o sorriso há muito fugira…
A sida já tinha seu fogo ateado
E a sombra da morte na esquina surgira

Sugaram a vida à dama da esquina
E o muro da esquina caiu de saudade
Da dama da noite…da velha menina…
Tão velha de corpo…tão nova de idade

Abgalvão (In Palavras Aladas)

[Goreti Dias]

Os sonhos murchos, o sorriso fugido... Triste dama!

[Joaquim Sustelo]

Sugaram a vida à dama da esquina
E o muro da esquina caiu de saudade
Da dama da noite…da velha menina…
Tão velha de corpo…tão nova de idade


E quantos, quantos casos destes? Muito bem retratada aqui a dama da noite!
Um abraço

[vaza pinheiro]

A Galvão

Gostei muito do seu poema, pela denúncia de um eterno mal social. Parabéns.

fernando vaza

[vilde]

"Sugaram a vida à dama da esquina
E o muro da esquina caiu de saudade
Da dama da noite…da velha menina…
Tão velha de corpo…tão nova de idade"

Mais um clássico moldado por ti, na forma do teu barro.
Sabes que há uma planta, chamada dama-da-noite?
Só quando escurece, é que lança o seu perfume.
Bj
vilde

[Abgalvão]

Às amigas Gorety e Vilde

e aos amigos Domingos da Mota, Sustelo e Vaza.

Os meus sinceros agradecimentos pelos vossos comentários
Cumprimentos

[cleo]

Um poema que mais parece uma canção triste de um fado amargo que a vida lhe cantou, roubando-lhe o viço da idade na esquina fria de um precipício sem volta...
E há tantas damas dessas que se arrastam na noite escura dos sonhos perdidos...

Beijo

[Abgalvão]

Obrigado Cleo por ler e comentar.
Cumprimentos

[saudade]

Amigo Galvão

Prazer em te ver aqui.

Mais um dos teus belos poemas.

Beijinhos

Saudade

[helenacosta]

 Poema actual, dedicado a tantas "damas da noite" que muito lutam e sofrem!
 
 Beijos

 Helena

[Dete]

Viva Galvão

Este é mais um daqueles teus poemas
que doem...por serem tão verdadeiros.
Mas...é preciso recordar...
e tu fazes muito bem neste poema.
Um beijo da
Dete

[carlossoares]

Estas rimas ressoam como um fado muito antigo, com assomos de peste nauseante, a fazer-nos sentir que a condição de tantas pessoas exploradas e maltratadas até à morte, incrivelmente tem foros de prática profissional.

[Abgalvão]

Caras Helena (Saudade)
                                Helena Costa
e Dete

Agradeço, de coração, os vossos comentários.

Caro Julio Saraiva

Agradeço o seu comentário. É uma tristeza enorme ver o rumo que este mundo está a seguir. Não pense meu amigo que nesta europa, dita civilizada, os problemas são diferentes para melhor. A criminalidade aumenta assustadoramente, cada vez há mais adolescentes a prostituirem-se, muitas, coitadas, para matar a fome e outras para conseguir atingir outras metas.
Droga e prostituição infantil estão cada vez mais ligadas.
Sabe, meu amigo, eu costumo dizer que há putas e prostitutas. Putas são aquelas que passam por damas de fino trato e andam na putaria por vocação e para viverem à " grande e à francesa".
Prostitutas aquelas que por força das circunstâncias a isso são obrigadas.

Cumprimentos

[RosaMaria]

Um tema actual, de carácter social, muito pertinente. É uma realidade nua e crua da nossa sociedade.
jinhos
Rosamaria

[Abgalvão]

Caros Carlos Soares  e Rosa Maria, os meus sinceros agradecimentos pelos simpáticos comentários.
Cumprimentos