Antonio
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« em: Novembro 29, 2007, 14:50:38 » |
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O Sr. Américo era um homem dos seus cinquenta e tal anos. Fanático da praia, costumava ficar numa barraca perto da minha, quero dizer, da minha famÃlia. E como isto aconteceu durante vários anos consecutivos, o conhecimento mútuo surgiu naturalmente. Além de ser uma defensor acérrimo dos benefÃcios para a saúde do ar do mar, do exercÃcio fÃsico, dos banhos em água fria (aqui no norte também não era fácil ter água à temperatura da do mar do Algarve), procurava bronzear-se o mais possÃvel (mas com os cuidados inerentes, embora naquele tempo ainda não se falasse no cancro da pele provocado pelo sol). Pessoa metódica, quasi obstinada, era muitas vezes o primeiro a chegar ao areal. Coisa de que se orgulhava. E brincava connosco, os mais novos: - Não tem vergonha? Em vez de aproveitarem este iodo e este sol, nas horas em que ele é melhor, bem cedinho, ficam na cama. Que desperdÃcio! Ponham os olhos aqui no velhote! E fazia todas as manhãs e todas as tardes o seu “cross†pelo extenso areal. O facto é que era um homem saudável! O seu gosto em andar bem bronzeado levava-o a ir passar uma meia hora para as desertas dunas onde, estendida a toalha e removido o calção de banho, se comprazia a bronzear as partes que não podia, por decoro, exibir em público. Mas à s vezes o destino é um pouco maldoso e, numa bela manhã, estando o Sr. Américo com o trajo de Adão (mas sem parra) a bronzear as bochechas, ouviu um pequeno ruÃdo. Ah, maldição! Não é que um corpulento cão, veraneante não habitual por aquelas paragens, resolveu abocanhar o calção de banho do nosso amigo e afastar-se calmamente do local? O nosso protagonista, atrapalhado como é de calcular, lá começou a chamar o bicho: - Ó cão! Anda cá! Ó pá! Dá-me cá isso! Então? Como que a gozar, o cachorro andou um bocado, parou, mirou o nosso herói que nessa altura já se tinha levantado e posto a toalha à volta da cintura (felizmente estava munido de toalha, senão...) e prosseguiu a sua lenta caminhada. - Ó filho da puta! Dá-me cá os calções! É o dás! Mais uma paragem. Mais uma olhadela desafiadora. E retomou o percurso para maior irritação do Américo. Até que, finalmente, e para alÃvio do banhista, o canÃdeo largou o troféu. A cena parece que demorou uma meia hora (eu acho que teria sido menos, mas o tempo psicológico para a vÃtima do atrevido cachorrão foi seguramente maior que o tempo real). Vestidos os calções, o nosso velho amigo regressou à base. Lá chegado, começou a rir-se, a rir-se, a rir-se...e nunca mais parava. Até que finalmente narrou a sua aventura de nudista roubado arrancando gargalhadas com fartura. Já não me lembro bem se voltou a ir fazer bronze para as dunas. Acho que sim, mas certamente tomando algumas precauções suplementares. Uma coisa é certa: a peripécia deu uma boa história (com um toque de erotismo e tudo), ou não deu?
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