VFS
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« em: Maio 14, 2009, 22:35:19 » |
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Instintivamente, para a maioria das pessoas o termo globalização é usualmente conotado com uma ideia económica e/ou comercial enquanto o vocábulo nacionalismo tende para uma noção política.
Partindo dessas associações, podemos dizer que ambas, cada uma à sua maneira, contribuíram para o mundo que hoje experimentamos. Igualmente podemos afirmar que à medida que se foram expandindo os horizontes geográficos tanto o centro de comércio como o centro de política mundial foram-se deslocando. Mas será que essa coordenação continua a verificar-se?
É inegável que o uso da força foi um instrumento essencial na conquista e formação dos impérios, só que isso notou-se durante os períodos da história em que os Estados soberanos não ocupavam a totalidade dos continentes, pelo que a expansão territorial era legítima e as colónias foram uma realidade.
Com os nacionalismos, que curiosamente começam na Europa em 1740 e que vão até aos movimentos independentistas das colónias no séc. XX, o mundo nunca mais foi o mesmo. Consequentemente, também a Europa não voltou a ser o que era. Como muito bem diz Jean Carpentier, “O Congresso de Viena não reconstruiu a Europa de antes de 1789”. Nem mais nada o fez porque as nações começaram a povoar a Europa e o mundo. Particularmente representativo de tal, é o período subsequente à Segunda Guerra Mundial. A descolonização era, nessa altura, um fenómeno em efervescência. E, ainda hoje, aparecem novos Estados (Timor-Leste).
Por sua vez, os mecanismos de segurança e de respeito pelo direito internacional que os vencedores da Segunda Grande Guerra criaram, tornaram muito mais difícil a expansão territorial às potências. Então, como é que as potências conseguiram expandir-se e aumentar a sua influência, depois de perderem as suas colónias? Foi através do comércio que tal se alcançou. Por ele, os territórios nacionais são “invadidos” sem que se verifiquem atropelos ao direito internacional.
Também temos que considerar o factor «revolução industrial». Se foi a Inglaterra que beneficiou por ter sido a primeira, lentamente as outras nações também iniciaram o seu percurso industrial e as próprias colónias beneficiaram com a tecnologia que as metrópoles transportaram para o seu interior. Como muito bem menciona S.S. o Papa Paulo VI na carta encíclica «Populorum Progressio» “reconhecendo, embora, os defeitos de certo colonialismo e das suas consequências, não podemos deixar, todavia, de render homenagem às qualidades e às realizações dos colonizadores que levaram a ciência e a técnica a tantas regiões”.
Ora, com a indústria a capacidade produtiva aumenta, pelo que as Nações vêem-se obrigadas a incrementar e melhorar o escoamento dos seus produtos. O comércio é o melhor meio para tal. E isso implica ausência de entraves, alfandegários ou de qualquer outro tipo, aos fluxos comerciais, pois o Estado que se mantenha à margem das conexões comerciais e das interligações relacionais aumentará o fosso que o separa dos demais. Ou seja, num contexto de uma interligação global, “o nacionalismo isola os povos” (S.S. o Papa Paulo VI).
Nos dias de hoje, globalização e nacionalismo são antónimos. Enquanto politicamente estamos alicerçados nas estruturas orgânicas originadas pela revolução industrial, economicamente praticamos os pressupostos gerados pela revolução tecnológica.
Também as dinâmicas intrínsecas a ambos são díspares. E resultante da tensão acumulada, em ambos os “campos”, o surgimento de entidades novas com grande capacidade de influência não é de estranhar (quer a Halliburton, quer a Al-Qaeda são exemplos). Infelizmente, quando os vectores político e económico se gladiam quem acaba por sofrer é a esfera social.
O Estado-Nação não é compatível com a globalização. Um deles terá que desaparecer. E das suas cinzas deverá edificar-se um sistema orgânico harmonizável com a força motriz actual. Vivemos numa época de transição civilizacional. Oxalá, para o bem dos nossos filhos, tal mudança seja serena.
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