marcopintoc
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« em: Julho 22, 2009, 21:32:20 » |
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Que bonequinha linda que trazes pelo braço , homem da camisa exclusiva de seda , que curvilÃneas são as ancas bamboleantes no topo dos crocodilos que desembolsaste no crédito platinado que nem sequer parece ser teu. Generosos lábios inchados em estrogéneo que te engolem a glande antes de se deliciarem com as iguarias exclusivas que o chefe francês vai preparar. Um pré-pagamento mamado para os luxos que tu te apressas a financiar no teu sorriso de esmalte perfeito e no inchaço causado pela pulsação acelerada que a tesão quÃmica cria nas tuas artérias sequiosas de envelhecer em paz.
Mas cuida o teu saldo, homem de relógio de cinco mil euros , quinquilharia de bezerro dourado , obscena ampulheta de ponteiros de diamante, cuida o teu património pois os olhos da tua pega de saia curta e barriga da perna generosa rebolam em direcção à s nádegas firmes do garçon de tez bronzeada e ,em duas palpitações de rÃmel que vale a refeição de um pobre, imaginam as suas garras acetinadas cravadas nas carnes firmes da juventude que os teus sete dÃgitos de propriedade apenas conseguem emular em breves momentos .
Todavia , aquele travo a amargo, o rabinho que a tua meretriz cobiça contrai-se na ânsia imaginada do falo do musculado negro que se senta na mesa três e pergunta , impaciente , ao chefe de restaurante pelo número de calorias da salada César enquanto , discretamente , contrai o bÃcepe tonificado na sessão de duas horas de halteres e se inquieta perante a ideia que a delineação da massa muscular foge ao plano de treino estabelecido. Aborrecido o homem de smoking e menu na mão garante que a carga calórica encontra-se nos limites aceitáveis para atletas e pessoas de barriga lisa.
Entediada com a ignorância dos olhos verdes do maricas a tua putinha palreia sobre uma pulseira linda que viu numa loja da baixa. Ausente , acenas que sim enquanto no teu celular sabes as novas da flutuação negativa do Ãndice bolsista e, para emulares o que não tens, dizes que a amas muito .
Sentado aqui , na mesa do canto , trocando por duas garrafas de vinho o hors d'oeuvres e o caviar ,desdenho ebriamente o teu snobismo. Falas de amor à tua vaca , atentando ao quadro de pura devoção que senta alguns metros atrás de ti. Se o teu pescoço não estivesse paralÃtico na presunção de um queixo erguido poderias rodá-lo e vislumbrar o quadro que pertence a uma realidade que não é a tua patética e exibicionista existência.
O casal cujas mãos não se desgrudaram entre as entradas deglutidas em malabarismo de mão só , as rugas que se cravam profundas na contagem decrescente para a morte de ambos. A doença , a doença chamou por ela , a sua cabeça não pára de oscilar numa convulsão que a dignidade do cabelo primorosamente arranjado não consegue disfarçar . Ele ancião , o laço e lenço no casaco azul em perfeita harmonia cromática , submete as suas pupilas a uma incansável correria para não sair do cravar sem pausa os olhos de sua senhora . O sistema nervoso central dela não dá um segundo de tréguas ao tremor mas , oh bravo cavalheiro , os teus olhos seguem sempre o seu olhar . Nesse silêncio feito do sorriso tranquilo de quem já não precisa nada mais da vida dizes quanto o teu amor é grande, quanto regozijas pela vida que passaram lado a lado , quanto é verdade o até que a morte os separe.
E tu , presunção , onanista patético debruado na tua vaca emplumada, nada vês. Discursas em voz alta para ver se alguém se espanta perante ti , a tua prostituta de idade jovem e o iate que irá a Monte Carlo.A poucas jardas da tua bazófia o polegar enrugado afaga as costas da mão da mulher que treme .Quão maior é a riqueza que nunca sequer percepcionarás.
E o vinho , o vinho que me leva a querer voltar à escrevinha do hotel e relatar quanto luminosos são os velhos amantes na escuridão de opulência que emanas , homem da camisa de seda, o vinho levanta-me da mesa. Fosse outro o século e esbofetearia a tua face com a luva branca para caminharmos de costas um para o outro , pistola na mão , duelo pelos dignos . Mas os tempos são feitos dos implantes da tua puta e da obscenidade da tua luxúria que fala alto , que fala do que outros não podem ter, que profere cifras que alimentariam bocas a morrer , que trariam sorrisos a infantes que amanhã perecerão de faminto abandono. Infame, infame
Ergo-me , em insolente gesto oblitero a rosa que alguém deixou na tua mesa e que não te dignaste sequer a mirar a pálida beleza e deixo a última nota de muitos euros cair sobre a toalha. Uma gorjeta para o pequeno que és , homem da camisa cara . Caminho, flor na mão , passo incerto do éter que me corre em excesso nas veias e ajoelho-me junto à mesa dos velhos . Estendo a delicada obra da terra em direcção à senhora:
- Para a rainha da noite , pois o amor é belo se for coberto de verdade – profiro
Um esforço hercúleo detêm o tremelicar do crânio da mulher, o seu queixo baixa-se num agradecimento nobre. Sorrio e parto. Paris , por vezes , ainda tem uma luz ofuscante que nos inebria e nos faz cantar por quem nunca mais voltaremos a ver, nas margens do Sena.
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