Antonio
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« em: Dezembro 25, 2007, 16:14:35 » |
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Sábado de manhã. Adelino Meireles estava no café, sozinho, e fez um telefonema: - Olá, Olga! Logo podemos encontrar-nos no sÃtio do costume? – perguntou. - Olá, amor! Isto hoje está complicado. Apareceu-me o perÃodo e está muito abundante – respondeu, de casa, a Olga Gomes. - Mas que chatice! Hoje era um bom dia. A minha mulher vai visitar a irmã e eu posso baldar-me porque há um encontro do partido – disse ele. - Olha! Eu sei que tu não gostas, mas podÃamos ir ao cinema e depois dar um pequeno passeio de carro. Há dois ou três filmes no Shopping que eu gostava de ver. Escolhemos um deles – sugeriu ela. - Tu sabes que é perigoso irmos juntos ao cinema. Mas se estás muito interessada, podemos encontrar-nos lá por volta das duas e meia – anuiu o homem. - Obrigado! Eu sei que é arriscado mas só se não tivermos cuidado. Se fizermos como de costume acho que não há problema nenhum – opinou a mulher. - Pronto! Então está combinado. - Então até logo, Lino! - Até logo, minha querida!
O Adelino Meireles era um tipo de estatura média, cinquenta e cinco anos, abundante cabelo grisalho e uma barba ainda mais branca. Trabalhava nas vendas e era casado com a Madalena mantendo uma relação pouco amistosa e de fachada. Tinham uma filha que ainda estudava, apesar dos seus vinte e seis anos, e vivia com eles. A mulher era baixa e gorda. Tinha a idade do marido mas, sobretudo depois dos cinquenta, ganhara bastante peso e perdera muito do apetite sexual que já tivera. A Olga Gomes tinha quarenta e três anos, era uma mulher bonita, mas discreta com os seus cabelos castanhos, forma simples de vestir e estatura abaixo da média. Sem roupa, todavia, ainda tinha um corpo esbelto e digno de ser apreciado. Trabalhava no sector de compras de uma empresa e fora aà que conhecera o fornecedor Meireles. Desde que se divorciara há três anos, vivia com a mãe e o filho Nuno que, com os seus vinte anos, estudava no primeiro ano de um curso de informática. Tinha a relação Ãntima com o Lino há mais de dois anos e vivia na esperança de que o seu amante deixasse a mulher e se ligasse definitivamente a ela. Mas o homem nunca mais ganhava coragem para dar o passo decisivo.
Eram duas e quinze quando ela chegou ao local combinado. Escolheu o filme, comprou dois bilhetes, tomou um café e ficou a aguardar que o Adelino chegasse. Passavam cinco minutos da hora aprazada quando ele surgiu, charmoso como sempre, e o coração dela palpitou. O homem não a viu e dirigiu-se para o átrio das salas de exibição. Ela levantou-se, deixando o dinheiro sobre a mesa, e foi postar-se junto dele: - Olá! – disse. O homem olhou para ela, depois olhou em volta, aproximou-se e perguntou: - Já escolheste o filme? - E já comprei os bilhetes. Vamos entrar porque começa daqui a cinco minutos – informou ela. E lá foram os dois, guardando uma prudente distância entre ambos até entrarem na sala 5 onde se sentaram numa das últimas filas pois havia já alguns espectadores instalados. Trocaram umas palavras, ele disse que depois lhe pagava os bilhetes e ela respondeu que não: - Desta vez pago eu, para variar. E começou a sessão. Passado pouco tempo sentou-se um casal junto deles. Cerca de hora e meia decorrida apareceram no écran as palavras: The End. Levantaram-se, os do lado também mas pararam na coxia deixando passar os dois amantes. Eis que o Adelino deu de caras com o seu vizinho do andar das traseiras, o Vieira que ele detestava e a mulher Henriqueta. Para complicar a situação o Lino tinha a mão no ombro da amiga. Retirou-a rapidamente mas o sorriso do outro não lhe deixou dúvidas: tinha percebido! O Joaquim Vieira cumprimentou-o sonoramente e o comprometido Lino respondeu com um sumido: - Boa tarde! Saiu mais afastado da Olga do que tinha entrado e fez-lhe um discreto sinal. Quando finalmente chegaram ao carro dele e entraram, falou: - Que grande merda! Os tipos que estavam ao teu lado moram no mesmo andar que eu e toparam. Ele é um sujeito asqueroso. Espero que não haja problemas. E o resto da tarde não foi nada agradável tirando uns beijos e carÃcias que trocaram dentro do carro.
Passados seis dias, estava ele a meter a viatura na garagem, ao fim da tarde, quando foi abordado pelo Quim Vieira. - Olá, vizinho! Queria dar-lhe só uma palavrinha. O Adelino, se já não gostava da cara do outro, da sua careca e dos seus dentes estragados à frente, desta vez achou-o pior que o Quasimodo. - Diga! Diga! - Só lhe queria pedir cinco mil euros para esta boca ficar calada! – ameaçou o Joaquim. A vontade do Meireles foi dar-lhe um murro e partir-lhe os dentes horrorosos, mas conteve-se. - Não sei do que fala! – retorquiu. - Ora! Ora! Claro que sabe. E eu tenho provas fotográficas – revelou o chantagista. O Vieira achou esse argumento pouco credÃvel e, depois de pensar um pouco, respondeu: - Eu vou meditar no assunto, mas primeiro tem de me mostrar as provas. - Está bem! Eu dou-lhe oito dias para pensar. Depois eu apresento-lhe as provas e, de imediato, você dá-me o dinheirinho – definiu o Vieira. - Combinado! – concordou o marido da Madalena. E afastou-se sem dizer mais nada. Mas começou a elucubrar: - Que diabo! Ele não pode ter provas nenhumas. É só a palavra dele e da mulher contra a minha. É melhor nem me preocupar muito com o assunto. Mas a proposta do outro não lhe saiu da cabeça nessa noite e, logo na manhã seguinte, lá estava o sorriso podre do vizinho desenhado na sua mente. Logo que pôde ligou para a Olga e contou-lhe o sucedido. Esta pensou rapidamente que talvez fosse esta a oportunidade de o Lino se separar da mulher e, portanto, as coisas poderiam ser boas para ela. Mas imediatamente lhe ocorreu que se não colaborasse com o seu homem este poderia mandá-la bugiar e isso, ela não queria. Finalmente respondeu: - Lino! E se ele arranjou ou, como falou em oito dias, ainda vai tentar arranjar fotografias nossas, comprometedoras? - Pois é, Olga! Mas não acredito muito nisso. PoderÃamos jogar pelo seguro e não nos vermos durante este tempo – sugeriu o homem. - É uma hipótese! Mas vamos pensar melhor no assunto – disse a mulher.
Estava o Joaquim Vieira, uma tarde, a entrar para o seu carro, quando surgiu vinda do nada uma loira com as pernas bem ao léu que se agarrou a ele enquanto um homem tirava fotografias. Logo depois a loira desapareceu e o fotógrafo gritou para o chantagista: - Oh Vieira! Agora quem tem fotografias sou eu. E tu não tens nada. Era o Meireles que armara uma cilada ao seu inimigo com a ajuda da Olga, que até tinha metido um dia de férias, e de uma cabeleira postiça bem ao estilo Marylin. - Estás enganado! Logo depois de te ter apanhado em flagrante contratei um tipo para te seguir e à tua amante e tirar fotos vossas. E ele fê-lo! Foi por isso que demorei quasi uma semana a abordar-te. Portanto, eu tenho mesmo provas! – explicou o marido da Henriqueta. - Pois é! Mas agora eu neutralizei o teu trunfo, pá! – disse, ufano, o Adelino. - Então proponho que troquemos as fotos – quis armar-se em esperto o careca. - Não querias mais nada? Estas fotos ficam comigo e tu, se quiseres, ficas com as tuas. Lixei-te, ó chantagista! E riu-se enquanto se afastava até chegar junto da sua cúmplice. - Tiveste uma ideia genial, minha querida! E só te digo que estou morto por ver as fotos. Tu estás mesmo um borracho! – elogiou ele, rindo. - Será que é desta que me vais dar a prenda que eu tanto quero? – aproveitou a mulher para atacar de novo a questão da separação dele. - Tem calma! Estas coisas tem de ser com calma! Mas que mereces, lá isso mereces...
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