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Autor Tópico: Hishgàr - Capitulo II  (Lida 3621 vezes)
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JLMike
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« em: Janeiro 07, 2008, 19:08:45 »

Capitulo II

Os sonhos. O treino. O Tyal.

“Este treino é importante.” Lugh pousou ambas as mãos nos ombros de Laho olhando-o directamente nos olhos. “É mesmo importante.”


O sono de Laho foi interrompido por inúmeros sonhos. Primeiro sonhou que Enki proferia o Pacto e invocava um Poder Superior que acabaria por virar-se contra si mesmo e destruí-lo. Depois sonhou que ele mesmo proferia palavras na Língua Antiga e que morria instantaneamente. Por último, Laho sonhou com uma pequena cidade desconhecida.
As casas pareciam todas pequenos palácios, com telhados de madeira pintados de vermelho e portas feitas de bambu verde. As pessoas passeavam em pequenos coches puxados por homens vestidos com compridas túnicas brancas. Todos os homens usavam um chapéu, pontiagudo e largo, e chinelas de madeira. Tinham o cabelo completamente rapado e da parte de trás dos seus chapéus pendia uma longa trança negra; as mulheres usavam o cabelo colhido atrás, formando uma longa trança, ou apanhado para cima, formando um carrapito, e vestiam túnicas justas, vermelhas com bordados áureos, ou azuis com bordados argênteos. Os seus pés descansavam em chinelas similares às dos homens.
O tempo parecia voar e as pessoas pareciam andar a grande velocidade. Depressa se fez noite e depressa chegou a madrugada.
Um homem saiu de sua casa e encaminhou-se à saída da cidade, em direcção a um grande rio.
Todo o cenário ficou negro, o sonho começava a desvanecer.
Ouviu-se bater à porta.
Um homem gritou: “Laho, Laho!”
O sonho reapareceu.
Um relâmpago cruzou os céus e embateu numa árvore no meio de uma pequena clareira; um círculo com uma estrela dentro apareceu no chão, brilhando com uma luz branca; uma rapariga materializou-se no centro do círculo, desnuda; um homem chegou a correr. O cenário voltou a ficar negro mas o sonhou voltou a aparecer numa sequência de flashes.
A rapariga a entrar na casa do homem; uma mulher e duas crianças idênticas a descerem as escadas.
A voz voltou a ouvir-se: “Laho! Estás aí?”
A rapariga e a mulher sozinhas na cozinha.
A porta voltou a bater.
A cara da mulher articulando uma pergunta: Como te chamas?
A cara da rapariga articulando uma resposta: Peowny.

Laho acordou sobressaltado e sem saber onde estava.
A porta estremecia enquanto que alguém batia constantemente da parte de fora.
Laho apressou-se a abrir a porta e deparou-se com Lugh, o Chefe do Exercito de Falindûr.
Lugh era bastante alto e Laho teve de esticar o pescoço e olhar para cima para lhe poder falar.
“Que foi? Que queres?” perguntou Laho aborrecido, o coração ainda a bater fortemente.
“Pega nas tuas coisas. O teu Mestre não te disse para ires ter comigo?”
Um raio de entendimento cruzou a cabeça de Laho.
“Sim, disse. Devo ter adormecido e não dei conta do tempo. Desculpa.”
A última palavra foi proferida com amargura. Laho não via qualquer razão para se desculpar além da boa educação. Nunca simpatizara com Lugh.
Lugh não parecia ter notado no tom daquela palavra e ficou parado a olhar para Laho, esperando que ele se decidisse a pegar nas coisas e seguir com ele. Este, sem se demonstrar nada motivado e com uma calma tão grande como o sono que sentia – que era muito –, dirigiu-se às prateleiras na parede oposta à da janela e tirou de uma delas uma fita cinzenta. Dirigindo-se à saída do quarto enrolou a fita em volta da cabeça de forma a que esta lhe tapasse os olhos. Depois seguiu em frente ignorando Lugh e deixando-o para trás. O seu coração acalmara e os seus pensamentos saltaram do sonho para o que iria ele e Lugh fazer.
“Hey, espera!” gritou Lugh quando reparou que Laho já ia a meio caminho de descer as escadas. “Ouviste?! Eu disse para esperares!” E apressou-se até Laho.
Ambos desceram as restantes escadas – que eram imensas pois estavam no topo da Torre e esta tinha cinco andares – e saíram para a rua.
O sol já não estava tão alto como de manhã e o vento adensara-se. Laho seguiu em frente mas depressa teve que parar pois reparara que não sabia onde se dirigir. Lugh, que estava sempre a ficar para trás, aproximou-se dele com um olhar reprovativo.
“És uma peste! Não sabes esperar?”
Laho virou-se para olhar para ele.
“Onde vamos?” perguntou Laho meio apressado.
“Vamos para onde eu disser que vamos e tu vais seguir-me sem pressas.” respondeu Lugh, mexendo os braços conforme falava. “Entendido?”
“Onde vamos?” repetiu Laho.
Lugh levou as mãos à cabeça. “Ahhh, mas que peste que és! Segue-me.”
Lugh parecia tanto importunado como divertido com a situação.
Ambos seguiram em frente pela estrada passado por entre as habitações da cidade. Laho reparou na vida quotidiana das pessoas. As mulheres estavam à porta das suas casas lavando a sua roupa em tanques de pedra que pareciam brotar do chão. Algumas crianças brincavam aos guerreiros com pequenas espadas e escudos de madeira. Nenhum homem se encontrava nas redondezas. Uma das crianças viu Laho e afastou-se dos outros para lhe poder falar.
“Laho, Laho!” chamou a criança, aos pulos, aproximando-se. “Onde vais, Laho?”
Laho esboçou um pequeno sorriso. Poucas eram as pessoas que pareciam simpatizar com ele. De todas as crianças era apenas esta que lhe falava.
“Vou treinar, Mikhé.” disse Laho pondo-lhe a mão em cima da cabeça. “E tu, que andas a fazer? De novo a brincar aos guerreiros?”
A criança corou. “Sim. A minha mãe diz-me para não o fazer mas eu já lhe disse que quero ser um guerreiro quando crescer, tal como o meu pai.”
Laho sentiu compaixão para com Mikhé. O pai de Mikhé havia morrido há muito pouco tempo numa missão de reconhecimento a Eleniri, a terra deserta. Desde aí que Mikhé, com apenas cinco anos, decidira tornar-se num guerreiro como o seu pai. Mas a sua mãe não gostava da ideia. E com razão. Foi muito difícil ver o seu marido morrer, não queria que o mesmo viesse a acontecer com o seu filho.
Laho agachou-se e disse baixinho ao ouvido do pequeno Mikhé:
“Eu não te devia dizer isto, mas continua a treinar. Tem cuidado é para a tua mãe não te ver, está bem? E tem cuidado com as espadas, não te magoes.”
“Eu não me magoo. Eu sou o melhor guerreiro de Falindûr, ninguém me vence!” respondeu Mikhé sorrindo e batendo com o punho no peito.
Laho levantou-se sorridente. “Vá, vai lá. Diverte-te.” E a criança afastou-se, juntando-se de novo aos seus amigos. Laho continuou o caminho com Lugh.
“O Mikhé é um grande rapaz. Um dia será um bom guerreiro.” afirmou Laho como se estivesse a falar consigo mesmo.
“Sim. Foi uma pena o pai dele ter morrido. Mas nessa missão perdemos quase todo o pelotão. E pouco soubemos, essa foi uma tragédia ainda maior que as mortes.” replicou Lugh.
“Pior? Como pode a falta de informação ser uma tragédia pior que todas aquelas mortes?” perguntou Laho boquiaberto. Continuaram a andar em direcção à saída da cidade.
“Os mortos podem ser substituídos.” explicou Lugh após um largo momento de reflexão. “Morrem cem no campo de batalha no mês seguinte já lá temos mais cem. Mas se não temos informações sobre o nosso inimigo não só perderemos esses outros cem como todos aqueles que para lá enviarmos. Por isso, a falta de informação é a maior tragédia.”
“Não posso aceitar isso, Lugh. Não posso nem nunca aceitarei. Se algum dia comandar algum pelotão tomarei todas as precauções para que ninguém morra. Nem que tenha que morrer por alguém.”
Lugh deu uma pequena gargalhada. Não era uma gargalhada de divertimento, era mais uma gargalhada de alguém que já viveu muito e que sabe que Laho, ainda jovem como era, precisava aprender muito.
“Eu não morreria por ninguém. Sou muito mais valioso para estas terras que a maior parte dos habitantes. Quanto mais deveriam ser os outros a morrer por mim.”
“Falas disparates.” concluiu Laho.
Não falaram mais. Continuaram a andar já fora da cidade. Estavam já perto da torre de vigia Este quando Lugh agarrou o braço de Laho para que este se detivesse.
“Aqui deve chegar.”
Laho olhou em volta. Estavam no meio de nenhures. Que treino poderiam eles ali fazer se não tinham nada com que lutar?
“Queres perguntar alguma coisa?” disse Lugh ao ver a cara confusa de Laho.
“Sim.” Laho olhou em redor. “Como vamos treinar? Não temos aqui nada. Nem espadas nem escudos.”
Lugh soltou um sorriso matreiro e disse: “Nem precisamos. Tenho em mim tudo o que precisas para um combate.”
Lugh levou a mão ao bolso e dele tirou um pequeno saco castanho. Depois ergueu o saco à altura dos seus olhos e disse: “Sila”
Laho compreendeu imediatamente. Com a Sila poderia criar fosse o que fosse a partir do solo.
Lugh abriu o pequeno saco para revelar o pó púrpura. Laho aproximou-se e retirou um pouco espalhando-o no chão de forma a desenhar um circulo com uma estrela dentro. Um Circulo de Transição.
“Já sabes usar Sila?” perguntou Lugh, desconfiado.
“Só sei fazer o círculo. O meu Mestre nunca me ensinou mais nada. Vais ensinar-me?” perguntou Laho esperançoso.
“Não” disse Lugh. “Não tenho autorização para isso. Vim aqui para te ensinar a Arte da Espada, nada mais.”
Laho mostrou-se aborrecido e tentou contestar mas Lugh levantou o braço impedindo-o de dizer o que quer que fosse. Depois, sem dizer mais nada, baixou-se e colocou ambas as mãos perto do Círculo, fechando os olhos ao mesmo tempo. Durante uns segundos nada se passou e Laho já começava a desconfiar se Lugh conseguia mesmo manusear a arte da alquimia, mas passado um bocado Laho começou a sentir a energia emanada pelo círculo. Em meros segundos o círculo soltou uma luz púrpura cintilante e no chão apareceu um escudo feito de pedra sólida.
Laho soltou uma risada de gozo.
“Ah! Só isso? Não consegues mais nada? Só um escudo? Desculpa mas se vamos treinar acho que precisamos de mais coisas.”
Lugh não se mostrou nem ligeiramente afectado por tal réplica. Mostrou-se emproado, como que se soubesse algo que Laho ignorava e que lhe dava um lugar de maior importância naquele momento.
“Se vamos treinar?” perguntou Lugh, a sua boca cortada num grande sorriso que mostrava todos os seus dentes. “A única pessoa que aqui vai treinar és tu. Pega no escudo.”
Laho abaixou-se para pegar no escudo. “Mesmo assim se só eu vou treinar ainda preciso de-“
A sua fala foi cortada pelo grande esforço que estava a fazer para poder erguer o escudo de pedra.
“Como vês não tens nem força para empunhar um simples escudo, queres já pegar numa espada?” disse Lugh rondando Laho. “Afasta os pés, divide o peso por ambas as pernas senão cais.”
Assim que Lugh falou em cair, Laho desconcentrou-se, deixou o peso sobrepor-se-lhe e caiu para trás. Os olhos de Laho semicerraram-se e na sua cara podia-se ver pura frustração. A noite seria longa…
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JLMike
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« Responder #1 em: Janeiro 07, 2008, 19:09:10 »

Já as duas luas estavam bem alto quando Lugh pediu para que Laho parasse e pousasse o escudo. Laho fê-lo com esforço. Tantas horas passadas a treinar com o escudo, ora empunhando-o bem alto ora correndo com ele, e mesmo assim Laho era tão lento como um caracol.
“Se fores assim para o campo de batalha não precisas de morrer por alguém… certamente morrerás por ti próprio.” disse Lugh enquanto seguiam de volta para a Torre.
Laho não achou piada. Não tinha feito qualquer progresso com o escudo e não entendia porque era necessário tal treino; certamente nunca iria usar um escudo tão pesado numa batalha, seria suicídio. Porque teria de treinar com um escudo inútil? Qual seria a função deste treino? Porque não podia ele aprender logo a manejar a espada? Se soubesse manejar a espada na perfeição nem sequer seria preciso um escudo!
Como que lendo os seus pensamentos, Lugh parou diante dele e disse:
“Este treino é importante.” Lugh pousou ambas as mãos nos ombros de Laho, olhando-o directamente nos olhos. “É mesmo importante, Laho. Podes pensar que não estás a fazer progressos, mas estás. Agora quero que me prometas que não vais desistir deste treino e que amanhã, à mesma hora, irás ter comigo à saída da Torre.”
“Está bem. Amanhã à mesma hora, à porta da Torre.” respondeu Laho.
“É uma promessa?”
“Não.”
Lugh apertou as mãos nos ombros de Laho e olhou-o intensamente.
“Mas vais lá estar?” perguntou, incerto.
“Sim.”
“Então acredito em ti. Até amanhã.” E com isto Lugh voltou-se e entrou na cidade, desaparecendo na escuridão e deixando Laho sozinho. O escudo, que estava caído no chão, desapareceu, fundindo-se de novo com o solo.

Laho caminhou em direcção à Torre passando por toda a cidade. Reparou que já ninguém estava fora de casa. As crianças já não brincavam e as mulheres já haviam recolhido às suas casas, acendendo os candeeiros a óleo que agora disparavam pequenos raios de luz pelas janelas iluminando debilmente o caminho. Os tanques onde as mulheres lavavam a roupa haviam desaparecido, certamente desintegrados com a arte da alquimia agora que as mulheres já não precisavam deles.
De onde estava, Laho conseguia ver a grande Torre Branca. De facto, não era apenas uma torre, eram seis. A mais alta estava no centro, erguendo-se colossal até aos céus. Outras cinco erguiam-se em sua volta, cada uma maior do que a outra. Todas elas estavam interligadas por grandes corredores. Este era o grande símbolo de Falindûr – não! - De todo Orâul. Esta torre era certamente a maior fortaleza de todo o país.
Quando Laho chegou a entrada da Torre as portas abriram-se prontamente concedendo-lhe passagem. Ele entrou e subiu as escadas que conduziam ao corredor central.
Com as ideias e pensamentos perdidos neste assunto nem reparou num pequeno animal que vinha a voar na sua direcção. O animal foi de encontra o seu peito, pairou uns segundos no ar, desnorteado, e depois contornou-o e seguiu para o fundo do corredor num voo apressado. Laho, sentindo-se curioso, decidiu segui-lo e iniciou uma corrida atrás do animal.
Depois de andar mais alguns passos, Laho deteve-se e ficou a olhar para o fundo do corredor. O seu Mestre, Enki, estava em frente a uma porta com a mão aberta esperando que o pequeno pássaro pousasse nela. Quando o pássaro finalmente pousou, Enki fechou a mão ao mesmo tempo que fechou os olhos. Durante uns segundos nada aconteceu. Depois Enki abriu a mão revelando nada além do ar e gritou bem alto algumas palavras indefinidas. Sem sequer reparar em Laho, Enki entrou no quarto e fechou a porta num estrondo. Laho resolveu voltar ao seu quarto e não incomodar o seu mestre. Voltou à escadaria central e daí virou à direita, subido as escadas em espiral, em direcção à torre Alfa, a torre onde se situava o seu quarto. Subiu as escadas calmamente com os seus pensamentos ainda no treino, ou melhor, no treino que não parecia servir para nada.

Nessa noite o sono de Laho foi assombrado de mais sonhos. Sonhou de novo que proferia palavras na Língua Antiga e morria instantaneamente. Sonhou também que um grande escudo feito de pedra ganhava pernas e braços e o perseguia pela cidade tentando esmagá-lo. Por fim, voltou a sonhar com aquela pequena cidade e com aquela rapariga estranha.
Neste sonho Laho conseguiu ver um pouco mais da cidade.

O homem que encontrara a rapariga chamava-se Bern. Laho não compreendia a razão de saber o seu nome, simplesmente sentia que o homem se chamava Bern. Da mesma forma sentia que a mulher se chamava Minir e que os pequenos rapazes, os gémeos, se chamavam Gaul e Septam.
Agora que os conseguia ver mais distintamente Laho vira que Bern eram um homem pouco alto, mas com os ombros bastante largos e fortes. Tinha o cabelo curto mas sempre despenteado. A mulher, Minir, era também ela baixa e de constituição forte. Tinha os cabelos longos e encaracolados, da cor do trigo. Os seus olhos eram cor de avelã. Os pequenos rapazes tinham o cabelo do pai, curto e despenteado, mas pareciam possuir um não-sei-quê da mãe. Talvez uma expressão ou talvez a constituição das suas faces.
A rapariga estranha, Peowny, tinha longos cabelos negros, uns olhos da cor dos céus, e um pequeno sinal no lado esquerdo da sua face. Nesta ocasião ela estava vestida com uma túnica igual à das outras mulheres, azul escura, bordada à mão com dragões argênteos. Parecia feliz.
Toda a família, juntamente com Peowny, encaminhou-se pela rua que cruzava a cidade até que esta se cruzou com uma outra que vinha de norte. Todos os habitantes pareciam encontrar-se ali. Todos os homens estavam a usar grandes chapéus pontiagudos o que parecia ser costume naquela região. Todas as mulheres tinham o cabelo apanhado para cima num carrapito e todas elas tinham pintado as caras singelamente.
Do meio da multidão um homem destacou-se. Estava aos saltos tentando fazer com que Bern reparasse nele. Quanto mais se aproximava mais distintos ficavam os seus chamamentos.
“Bern! Bern! Minir, Bern!” o homem corria em direcção a eles.
Quando finalmente os apanhou teve de se reter uns segundos para recuperar o fôlego. De seguida fez uma vénia a Minir. Esta estendeu-lhe a mão para que ele a beijasse. Ele assim o fez e disse: “Estais mais linda que ontem, Minir. E amanhã estarás certamente ainda mais linda e todos os dias ficarás mais bela, tal como uma flor que desabrocha mas nunca morre.”
Minir corou um pouco mas nada disse. O homem dirigiu-se a Bern e também lhe fez uma vénia. Bern retribuiu-lha.
“Como estás, Gotto?” perguntou Bern numa voz simpática.
“Bem, bem, bem, óptimo aliás. Num dia destes quem não pode estar bem?” Gotto falava apressadamente e parecia extremamente ansioso.
“Sim, num dia como o de hoje todos devemos ostentar um sorriso.” concordou Bern. “Mas sigamos, não quero chegar atrasado.”
”Não, não, não. Eu não posso. Tenho o meu cocheiro à minha espera. Levar-vos-ia, mas apenas tenho lugar para mim e para a minha mulher. Encontramo-nos lá talvez.” Gotto afastou-se um pouco, fez uma vénia longa, e partiu.
Todos os habitantes seguiram pela estrada e ninguém da família de Bern trocou alguma palavra. Apenas os pequenos gémeos é que faziam Minir por vezes soltar algum aviso quando eles se afastavam demasiado da multidão.
Quase imediatamente o cenário mudou; já não estavam na rua mas sim num grande descampado. O chão era todo de terra, os passos da multidão faziam o pó levantar deixando uma camada de fumo horizontal por toda a parte. No meio do descampado, virado para um rio, estava um grande palácio, igual a todas as outras casas da cidade mas em proporções bastante superiores. A multidão juntou-se toda em frente do palácio, todos com os olhos postos num magnifico barco que atracava ali perto.
Peowny e a família de Bern atravessaram a multidão para poderem ver melhor.
Do navio saiu um estrado de madeira que foi encostado ao chão, permitindo assim que cerca de vinte homens descessem do barco com grandes tapetes negros e os esticassem no chão para que quem quer que da embarcação saísse não tivesse de pisar aquele chão de terra.
A população começava a ficar mais agitada, as pessoas das filas mais afastadas punham-se de bicos de pés para poderem ver melhor; algumas crianças estavam agora em cima dos ombros dos seus pais.
Um vulto vermelho apareceu no barco, descendo o estrado de madeira. Era uma mulher. Tinha o cabelo apanhado atrás numa longa trança que quase batia no chão. Na frente da sua túnica vermelha estava bordado um dragão áureo agarrado ao desenho da letra “A”. Era a filha da Imperatriz de Algorab.
Do meio da multidão apareceu Gotto, apressado, dirigindo-se pela passadeira negra até à rapariga. Quando chegou perto dela Gotto fez uma vénia tão grande que quase bateu com a cabeça no chão. A rapariga, no entanto, não lhe deu a mão a beijar e seguiu em frente, para o palácio que estava no centro do recinto.
Peowny olhava fascinada para a rapariga. Bern repreendeu-a.
“Peowny, não olhes. É crime olhar para a cara tanto da filha da Imperatriz como da própria Imperatriz. Olha para baixo e espera que ela ou entre no palácio ou te peça para olhares para ela.”
Peowny fez como Bern disse e baixou a cabeça.
A filha da Imperatriz manteve o andar brando até chegar às portas do palácio. Depois voltou-se para trás como que esperando por alguém. De dentro do barco saiu um homem muito alto e de ombros largos. O cabelo era curto e a expressão pesada.
O sonho começou a desvanecer assim que Laho viu quem ele era. Era Lugh.

Todo o cenário ficou escuro e Laho não sonhou com mais nada o resto da noite.
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« Responder #2 em: Janeiro 07, 2008, 19:33:35 »

Voltará a sonhar?
Tu voltas a escrever... escreves primorosamente!
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Goretidias

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« Responder #3 em: Janeiro 08, 2008, 13:08:11 »

Obrigado Goretidias Wink fico feliz por pensares isso =P

Irei publicar o Terceiro Capitulo assim que este tiver mais comments, principalmente da Leto, que tinha demonstrado interesse em ler esta história Smiley

Abraços e boas leituras Wink
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« Responder #4 em: Janeiro 09, 2008, 13:48:02 »

Penso que deverias colocar capítulo a capítulo em tópicos novos. A leitura é mais fácil dessa forma! Assim, corres o risco de verem o primeiro capítulo e pensarem que já não há nada mais de novo. Pensa nisso!
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« Responder #5 em: Janeiro 09, 2008, 19:32:07 »

sim, farei isso, o terceiro ja vais estar num topico novo e por ai em diante Wink

bgd pla sugestao
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« Responder #6 em: Janeiro 12, 2008, 15:48:31 »

Peço desculpa pela demora, mas só tive tempo de o ler hoje  Undecided

Está fantástico, como sempre!
O que significará o sonho do Laho? Hum... fico à espera para ver, ou neste caso para ler  Grin

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Voltará criança pequena, correndo,
Voltará eterna sinfonia,
Voltará assim um dia."

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Bom dia. Para todos um FigasAbraço
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Sejam bem vindos às escritas!
Agosto 14, 2023, 16:52:48
Boa tarde!
Janeiro 01, 2023, 20:15:54
Bom Ano! Obrigada pela companhia!
Dezembro 30, 2022, 19:42:00
Entrei para desejar um novo ano carregado de inflação de coisas boas para todos
Novembro 10, 2022, 20:31:07
Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
Novembro 10, 2022, 20:30:23
E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
Novembro 10, 2022, 20:29:22
Boas leituras!
Novembro 10, 2022, 20:29:08
Boa noite!
Setembro 05, 2022, 13:39:27
Brevemente, novidades por aqui!
Setembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
Outubro 14, 2021, 00:43:39
Obrigado, Administração, por avisar!
Setembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
Abril 12, 2021, 19:05:45
Boa noite a todos.
Abril 04, 2021, 17:43:19
Bom domingo para todos.
Março 29, 2021, 18:06:30
Boa semana para todos.
Março 27, 2021, 16:58:55
Boa tarde a todos.
Março 25, 2021, 20:24:17
Boia noite para todos.
Março 22, 2021, 20:50:10
Boa noite feliz para todos.
Março 17, 2021, 15:04:15
Boa tarde a todos.
Março 16, 2021, 12:35:25
Olá para todos!
Março 13, 2021, 17:52:36
Olá para todos!
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Boa feliz noite para todos.
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Bom fim de semana para todos
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Boa quinta para todos.
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Boa noite para todos.
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Boa noite feliz para todos.
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Bom domingo para todos.
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