Tempo Morto 2 (O Silêncio)

[JLMike]

Quieto. Parado. Inerte. Ciente de tudo o que me rodeia, de todo este som quebrado raramente por silencios. Ciente dos ponteiros do relogio que parecem andar para trás, da ventoinha pregada ao tecto e monotonamente parada, da música alegre de Sunshine Underground que me chega aos ouvidos em gritos de agonia intervalados por um horrivel "thump" pois a aparelhagem está meio estragada.

"I guess you might as well try..."

Foram as últimas palavras saidas da boca do vocalista. Mudei de música. Grace Kelly, do Mika.

"Wht don't you like me,
Why don't you like me,
Without making me try?"

Alguém me pede informações.

"Não, não vendo tabaco. Tente no Pérola à saida do Centro."

"Obrigado"

"De nada"

E afastou-se.

Som de novo. Som intervalado por raros silêncios. Lolipop a sair alegremente das colunas.

"Mama told me what I should know:
Too much candy's gonna roth your soul.
If she loves you, let her go
Or love's gonna get you down."

Quero silêncio mas isso éimpossivel. Já pensei nesta teoria varias vezes e chego sempre à mesma conclusão:

O SILÊNCIO É IMPOSSIVEL

Recapitulando (enquanto Michael Bublé me encanta os ouvidos):

O que é o silêncio?

A ausencia de todo e qualquer som.

É impossivel porquê?

Imaginemos que nos fechamos num quarto, vidros à prova de som, isolado todo e qualquer ruido vindo de fora. Estaremos em silêncio?

NÃO

Porquê? Porque nós próprios, os nossos corpos, provocam sons impossivels de evitar: o respirar, até o simples pestanejar. Pronto, OK, fechemos os olhos então e não pestanejaremos mais. Mas quem se atreverá a parar de respirar?

Sendo assim é impossivel a ausencia de todo e qualquer som.

E se, por algum milagre, até conseguissemos não respirar e, assim, deixar de produzir esse som, mesmo assim nunca estariamos completamente silenciosos.

Pensemos: quando pensamos em certas coisas, quando lê-mos ou escrevemos, não produzimos sons na nossa mente? Embora não pronunciados pelas nossas bocas nós criamos (ou lembramos) os sons enquanto vivemos. Eu próprio, admito, estou contantemente a produzir sons na minha cabeça: pensamentos, ideias, conceitos, simples conversa de mim para comigo mesmo.

Enfim... existirá, na realidade, o verdadeiro silêncio?

A Morte? Quem nos diz a nós que a Morte não é apenas uma porta que atravessamos?
É impossivel confirmar por isso nem deverá ser posto em questão.

Mas, pensando assim, estará correcto pedirmos "silêncio"?

Não deveriamos antes pedir "menos som" ?

(Michael Bublé ainda me encanta os ouvidos mas vou parar de escrever por agora...)

(Estou ciente de que tenho coisas mais importantes para fazer... mas não me apetece fazê-las...)

[Goreti Dias]

Pelo menos, apeteceu-te escrever... ainda bem!
Quanto ao silêncio, de facto, penso que ele não existe. Tão pouco na morte... e não pelo ponto de vista que apontas... os próprios vermes que nos roem as entranhas hão-de fazer algum ruído... ou o fogo que nos oferecem no forno crematório...
Uma experiência deveras desagradável é também o quase silêncio, mesmo esse! Quem já esteve dentro de uma câmara de testes auditivos sabe do que falo. O som faz falta! Falemos então, ainda que seja num teclado de computador (também faz algum ruído)!
Um abraço